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João Pessoa é a capital brasileira com maior desigualdade de renda, aponta IBGE

A cidade de João Pessoa, embora reconhecida mundialmente por suas belezas naturais e qualidade de vida, enfrenta uma realidade social marcada por uma das maiores desigualdades de renda do Brasil. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (5), a capital paraibana lidera o ranking de desigualdade entre as capitais brasileiras, com um índice de Gini de 0,629 em 2023. Esse índice, que mede a concentração de renda, posiciona João Pessoa acima de grandes metrópoles como São Paulo, que obteve um índice de 0,585 no mesmo ano.

O índice de Gini varia entre 0 e 1, sendo que quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade. Em João Pessoa, a diferença entre os rendimentos dos mais ricos e os mais pobres é alarmante. Os 10% mais ricos da cidade têm uma renda média de R$ 26.070, enquanto os 40% mais pobres ganham, em média, R$ 972. Isso resulta em uma razão de 10/40 de 26,8, mais que o dobro da média brasileira (11,9) e superior também à da Paraíba (18,6), do Nordeste (13,2).

Além da desigualdade de renda, o IBGE revelou que 7,4% da população paraibana vive em extrema pobreza, com uma renda per capita abaixo de R$ 209 mensais — o que equivale a menos de US$ 2,15 por dia, conforme os critérios do Banco Mundial. No Brasil, a taxa de extrema pobreza é de 4,4%, enquanto no Nordeste esse número chega a 9,1%. Em relação ao ano anterior, a Paraíba conseguiu reduzir o número de pessoas em extrema pobreza, que em 2021 era de 15,6%.

Embora o índice de extrema pobreza tenha diminuído, a situação de pobreza monetária continua a ser um desafio. Aproximadamente 47,4% da população da Paraíba vive abaixo da linha de pobreza, que corresponde a uma renda de R$ 665 mensais. Esse número está acima da média nacional (27,4%) e da média do Nordeste (47,2%).

Além disso, as disparidades de renda entre diferentes grupos raciais são evidentes. Em média, as pessoas brancas na Paraíba ganham R$ 3.565 mensais, enquanto os pardos recebem R$ 1.837 e os negros, R$ 1.414. Isso significa que os brancos ganham, em média, 94,1% mais que os pardos e 152,1% mais que os negros.

Desigualdade aumenta, mas preço dos imóveis dispara na Capital

Apesar de uma leve redução na pobreza extrema, a desigualdade na capital paraibana tem se aprofundado. Em 2010, João Pessoa ocupava o nono lugar no ranking das capitais mais desiguais, mas em 2023 subiu para o topo dessa lista. O Índice de Gini da cidade, que já era elevado em 2010, aumentou de 0,628 para 0,629 nos últimos 13 anos, enquanto outras cidades, como Recife, reduziram significativamente suas desigualdades.

Outro indicador preocupante é a valorização imobiliária. João Pessoa tem experimentado um aumento considerável no preço dos imóveis residenciais, com uma valorização acumulada de 17% nos últimos 12 meses, segundo o levantamento FipeZAP. Esse crescimento acentuado dos preços tem forçado a população mais pobre a buscar moradia em áreas mais afastadas do centro e da orla da cidade. A Zona Sul, especialmente o bairro de Gramame, foi uma das regiões que mais cresceu nos últimos anos, com um aumento de 40 mil habitantes nos últimos dez anos.

Com os imóveis cada vez mais caros e a disparidade crescente de renda, a segregação espacial se torna mais evidente. A parte mais rica da população continua a ser concentrada nas áreas mais centrais e valorizadas, enquanto os mais pobres são empurrados para as periferias, longe dos principais centros comerciais e de serviços da cidade.