O tamanho de Daniella

Em 2018, a candidatura de Daniella Ribeiro ao senado dominou a crônica política das composições e articulações que precederam as eleições gerais daquele ano.

Ali, havia algo curioso. Em que pese o acirramento entre as legendas para compor com Daniella sua candidatura ao senado, em qualquer análise ligeira sua competitividade era questionada.

A história daquela eleição mostra que as urnas pregam peças nos analistas mais confiantes. Daniella saiu vitoriosa, sendo a mais votada em João Pessoa e Campina Grande, com estratégia versátil por todo Estado que pavimentou seu êxito.

Foi o segundo voto em larga escala. O que não é demérito, antes virtude, pois teve consistência em se apresentar como alternativa numa arena de grandes figuras políticas.

Corta pra 2020.

O Progressistas, partido liderado pela família Ribeiro na Paraíba, faz movimentos diversos e até ousados. Firma aliança vitoriosa em Campina Grande, onde o filho da senadora figura como vice prefeito eleito.

Em João Pessoa, a candidatura de Cícero Lucena pôs no mesmo palanque o resultado de uma composição audaciosa: Cícero, o governador João Azevedo e Daniella.

No segundo turno foi notável seu esforço pessoal para eleger um prefeito do Progressistas na capital. Outro êxito que nos leva à pergunta inicial: qual o tamanho de Daniella?

Olho para sua trajetória e enxergo um arco de narrativa interessante, como se ela mesma não tivesse lá atrás clareza de sua envergadura. Conflito, aliás, que não deve ser incomum para mulheres em espaços dominados por homens.

Quando vereadora, teve a iniciativa do mandato popular, o que perdurou quando conduzida pelo voto à Assembleia Legislativa. Fez oposição dura no primeiro mandato de Ricardo Coutinho, mais comedida no segundo.

No Senado, além de líder do partido na casa, preside a comissão de Ciência e Tecnologia. Protagonizou articulações importantes na casa, como a nova data do ENEM, Novo FUNDEB,  Lei Aldir Blanc e o socorro aos municípios no enfrentamento da pandemia.

Não poupou críticas ao negacionismo do governo diante da pandemia, dando centralidade à ciência em suas posições, e reinvidica pra si o papel de entusiasta de pautas voltadas para educação.

É uma política de centro que não atende ao apetite do eleitorado da esquerda, orfão de lideranças após a derrocada girassol.

Por outro lado, essa mesma moderação cria vantagem comparativa contra Romero Rodrigues, numa eventual disputa pelo governo do Estado em 2022.

Primeiro, porque em sendo Romero apoiador assíduo do governo Bolsonaro, está fadado a carregar o amargo e o doce de suas posições.

Segundo, tal como sua trajetória explica, Daniella transita por espaços cujas portas Romero vai ter que se reinventar para abrir. A começar por João Pessoa, onde seu capital político é medíocre, para não dizer capenga.

Se até mesmo jogando em casa, em Campina Grande, Romero teria uma adversária competitiva, ele próprio já deve ter parado para calcular o tamanho da oponente eventual.

Aliás, ouso arriscar que na matemática que mede Daniella, as contas quase nunca batem. Medem seu sobrenome, subestimam a mulher, e desconsideram sua capacidade de comunicar seu fazer política.

O fato é que do ponto de vista estratégico, a senadora desponta como quadro possível e viável para a corrida ao governo do Estado.

Do ponto de vista programático, talvez lhe falte resolver um conflito que fica na sombra da sujeita política: qual sua agenda, afinal? A indefinição que beneficia, como também atropela, se resolverá ou não adiante.

No xadrez da política, o tamanho de Daniella é a pergunta que ressoa, sucedida pela questão a qual dedicarei a próxima coluna: o João Azevedo que sai das eleições municipais é um articulador exímio, bicho político com vida própria, ou foi tudo culpa de Agnaldo Ribeiro?

Cada coisa a seu tempo.

Por agora, guardo sérias divergências em pautas reformistas, às quais a senadora tem demonstrado apoio irrestrito, mas impressiona ver sua escalada política. Antes inquieta, hoje, “SenaDani”, como brincam na internet, é uma política com estatura e capacidade de diálogo nos gabinetes, no palanque e nas ruas.

Foi a grande figura feminina dessas eleições, e tem agora o fardo do prego que se destaca, somado à insistência com que os homens tendem a subestimar quando os ventos que sopram trazem uma mulher para o centro do debate.

É exatamente onde Daniella se encontra, no centro.

Por Daniel Macedo