Violência e ignorância: as bases do bolsonarismo

“Sou capitão do Exército, a minha especialidade é matar, não é curar ninguém.” Essas frases, proferidas por Jair Bolsonaro durante a pré-campanha presidencial em Porto Alegre, em 2017, foram proféticas. Ela é a síntese de um dos pilares do bolsonarismo: a violência.
Em toda sua trajetória política, Bolsonaro sempre fez apologia à violência, típico comportamento da extrema direita em todo mundo. Em muitas entrevistas concedidas por ele, defendeu a ditadura militar, a tortura e uma guerra civil no Brasil em que morresse 30 mil pessoas. Seu culto às armas e desprezo pelos mortos pela Covid-19 revelam a faceta mais obscura do embate político: a destruição do outro, a eliminação do adversário, o incentivo à morte.

Misoginia, homofobia, racismo, palavras de baixo calão, xingamentos, gestos obscenos e discursos de ódio são elementos constitutivos da “virilidade” a ser demostrada pelo bolsonarismo. Aquele que cultua a violência tem que, em todos os momentos, demonstrar força, coragem e disposição para o combate. É como se estivesse permanentemente em campo de batalha.

Jair Bolsonaro não está sozinho na sua cruzada anticivilizatória. O bolsonarismo tem raízes profundas no nosso país. A truculência como arma política tem uma longa tradição no Brasil. O integralismo, movimento político inspirado no nazi-fascismo, que teve grande força no país nas décadas de 1920 e 1930, fazia da violência um dos seus pilares. Durante a ditadura civil-militar que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985, a tortura era empregada corriqueiramente contra os opositores ao regime.

Outra faceta do bolsonarismo é o culto à ignorância. As falas de Bolsonaro revelam o anti-intelectualismo, o negacionismo e sua aversão à ciência. O combate desencadeado contra a comunidade científica vem de longe e alcançou o ápice durante a epidemia de Covid-19. O recente corte de 600 milhões de reais no orçamento para a pesquisa é o maior exemplo. No governo Bolsonaro, nada está tão ruim que não possa piorar.

O ministro da educação, Milton Ribeiro, vai na mesma linha de Bolsonaro. Em encontro com evangélicos, afirmou que existem universidades em excesso no Brasil. Em outra oportunidade, Ribeiro disse que o ensino superior deveria ser para poucos. Essa visão elitista e obtusa é a marca do bolsonarismo. Esquecem que os países mais desenvolvidos do ponto de vista tecnológico são aqueles que investiram maciçamente em pesquisa e ensino superior.

A extrema direita em todos os países sempre lutou contra a liberdade de pensamento, a imprensa livre, a cultura, o conhecimento e a democracia. O bolsonarismo é expressão política da onda populista que grassa pelo mundo no século XXI. Em países como Polônia, Hungria, França, Alemanha, Itália, Portugal e Áustria, vemos recrudescer os partidos que pregam a intolerância religiosa, o obscurantismo e a xenofobia.