Na pandemia: quase 500 mulheres são agredidas por hora no país. Conheça projetos de enfrentamento à violência em João Pessoa
A cada minuto, oito mulheres no Brasil são agredidas. Uma em cada quatro sofreu algum tipo de violência física, psicológica, sexual, patrimonial ou intelectual na pandemia. A agressão física se destaca pelo tamanho de seu universo representado por 16 milhões de mulheres. É o que aponta a pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, um levantamento inédito do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto DataFolha divulgado na primeira semana de junho. A pesquisa ouviu 2.084 mulheres a partir dos 16 anos; 25% delas disseram que a falta de autonomia financeira, impulsionada pelo aumento do desemprego, as deixou mais vulneráveis.
Outros números chamam atenção: as mulheres jovens, dos 16 aos 24 anos, são maioria entre as vítimas (42,6%); mulheres pretas e pardas, também (55,9%). Para mais de 76% delas o agressor era conhecido: marido/companheiro/namorado (23,8%), vizinho (21,1%), ex-marido/ex-companheiro/ex-namorado (15,2%). Outro dado alarmante: 52% das mulheres abusadas não buscaram ajuda. Apenas 5,5% pediram socorro à polícia pelo telefone 190, e 10,3% procuraram a Delegacia da Mulher.
A pesquisa não faz o recorte por estado. Na Paraíba, os números levantados pela Secretaria de Segurança e Defesa Social (SEDS) não dizem respeito especificamente à pandemia. Mostram apenas que houve aumento nos assassinatos de mulheres em 2020 (1.096) na comparação com o ano anterior (869). Ao todo, 9.806 crimes contra mulheres foram registrados, o que dá uma média de 26 crimes por dia. A questão financeira apontada na pesquisa nacional por vítimas de violência é também um dos motivos que prendem essas mulheres em ciclo tão perverso que, muitas vezes, acaba em feminicídio.
“Essa é uma realidade de muitas mulheres. Na medida em que não tem dinheiro, sofrer violência passa a ser uma questão secundária, porque o mais importante é garantir a comida dos filhos. Não tem como sair de casa uma vez que não consegue se sustentar e sustentar os filhos. Infelizmente essa é uma realidade e por isso precisamos trabalhar mais para evitar que o processo de agressão aconteça e que possa chegar à morte dessas mulheres”, disse a deputada estadual Camila Toscano (PSDB).
Na capital do estado, os números correspondem aos atendimentos realizados no Centro de Referência da Mulher nos anos de 2016 a 2019. De acordo com a Secretaria Extraordinária de Políticas Públicas para as Mulheres (SEPPM): foram 50. Boa parte das vítimas de violência doméstica e familiar vive em comunidades pobres de João Pessoa.
Por que os números importam?
A partir desse retrato é possível traçar estratégias e criar políticas públicas de enfrentamento à violência contra a mulher. Em João Pessoa, há uma rede de apoio às vítimas para promover acolhimento, prestar orientação jurídica, atendimento psicológico e social e assegurar proteção para quem precisa ficar longe do agressor e em segurança. “O papel da Secretaria da Mulher é estar junto, acolher, proteger. Pra isso, temos o Ronda Maria da Penha. Nosso número direto é o 153. Temos advogada de plantão e contamos com um serviço essencial maravilhoso que é o Centro de Referência da Mulher, que as mulheres ligam e agendam atendimento pelo 0800 283 3883, inclusive no fim de semana”, afirma a secretária Nena Martins, da SEPPM, que anunciou, recentemente, um projeto de empreendedorismo feminino em parceria com o Sebrae:
“O objetivo desse projeto é ajudar as mulheres vulneráveis, aquela mulher que está nas comunidades sem trabalhar e que, na maioria das vezes, nem teve oportunidade porque começou a cuidar de sua família, do filho, do esposo. Nós queremos inseri-la no campo de trabalho. As que já trabalharam e pararam, vamos reinserir no mercado de trabalho por meio de capacitação. A pandemia trouxe muita coisa ruim: solidão, conflitos dentro de casa, com a própria família… a gente vê que o índice de violência tem aumentado muito na pandemia e essas mulheres não têm o lar como sua segurança porque são agredidas em casa. Eu creio que empreender é a base necessária para dar uma retomada na vida”, destaca Nena Martins.
Há um outro projeto em desenvolvimento pela Prefeitura de João Pessoa com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que inclui capacitação e inclusão de mulheres em situação vulnerabilidade social e econômica nas comunidades do Complexo Beira Rio a partir da integração de várias Secretarias: Trabalho, Produção e Renda (Setrab); Meio Ambiente, Educação, da Saúde, Desenvolvimento Social e Participação Popular. As ações estão previstas no Plano de Desenvolvimento Comunitário (PDC) que integra o Programa João Pessoa Sustentável. “Como a temática de gênero é transversal e perpassa todas as ações do Programa, a perspectiva é firmar os processos de aquisição com a de inclusão de gênero dentro dessa integração. A intersetorialidade é premissa necessária para o desenvolvimento das ações”, pontuou Dalliana Grisi, da Unidade Executora do Programa.
O Plano pretende contemplar os diferentes aspectos de inclusão de gênero, diversidades e vulnerabilidades com a instalação de comitês temáticos, soluções tecnológicas e plataformas digitais capazes de identificar os diversos tipos de violência contra a mulher, e a inclusão delas em atividades do setor produtivo e comercial. A implantação está prevista para ser iniciar ainda este mês com a instalação de quatro escritórios locais de gestão (Elos).
Outras ações
Há um projeto on-line voltado para acolhimento de vítimas do abuso. A NOSSAS é “uma rede de solidariedade que conecta mulheres que sofrem ou sofreram violência de gênero a psicólogas e advogadas dispostas a ajudá-las”. O lema é “nenhuma mulher deve sofrer sozinha”. Um Mapa de Acolhimento foi criado para atender mulheres de todo o país e, junto com ele, um Guia de Serviços Públicos com serviços disponíveis.
Quem precisou do serviço, fala da importância de ser acolhida em meio a um processo de tanta dor: “Eu tenho 20 anos e já passei pela violência física, sexual, e psicológica. Quando conheci a terapeuta, não fazia ideia que ela seria tão importante pra mim. Já estou em tratamento há 8 meses e já consigo ver as coisas se amainarem dentro de mim, vendo sempre uma luz e esperança por dias melhores. Esse projeto é sem sombra de dúvidas muito importante e faz diferença na vida de mulheres como eu, que buscam alívio para as dores e feridas que a vida nos causou..”
É um projeto que faz diferença também na vida de quem se dispõe a ajudar: “Participar como voluntária do Mapa do Acolhimento vai além de oferecer atendimento de psicoterapia gratuito às mulheres vítimas de violência. É ter a oportunidade de fazer parte de uma rede protetiva bem articulada e segura, que tem empenho em garantir um espaço efetivo para que essas mulheres sejam sensivelmente consideradas, acolhidas e fortalecidas em seus direitos e dignidade.”, garante uma das psicólogas voluntárias do Mapa do Acolhimento disponível no endereço eletrônico https://www.mapadoacolhimento.org/.
Canais de denúncia
- 180 – CENTRAL DE ATENDIMENTO A MULHER
- 197 – POLÍCIA CIVIL
- 190 – POLÍCIA MILITAR
- 153 – RONDA MARIA DA PENHA
- 0800 283 3883 – CENTRO DE REFERÊNCIA DA MULHER – JOÃO PESSOA
- 123 – DISQUE DENÚNCIA