Opinião

MDB em crise: candidatura ao governo da Paraíba é remédio ou veneno?

O MDB da Paraíba já não é mais o mesmo. São duas décadas sem a máquina do governo nas mãos. Sem falar nas prefeituras que perdeu: 16 de 2016 para 2020. Na prática, significa perda de poder político.  Nos últimos anos, aquele que rivalizava com o PSDB (outro que vem colecionando derrotas) vem se tornando um partido meramente eleitoral. Apenas luta para se manter no jogo sem qualquer protagonismo.

Não deixa de ser reflexo das rotas que o partido vem tomando nacionalmente. Embora o MDB permaneça como o maior partido do Brasil em número de filiados (2.163.450 pessoas. Fonte: TSE/2020), vem minguando em expressão e nomes de peso. A última vez em que disputou uma eleição presidencial foi em 1994 com Orestes Quercia que obteve apenas 4,4% dos votos. Isso, é claro, respinga nos estados. Talvez por isso, a sigla, que em passado recente mudou de nome na tentativa de resgatar suas origens (o que foi pura maquiagem), lançe nesta quarta-feira (7) a pré-candidatura de Simone Tebet à presidência da República – única mulher na disputa ao Palácio do Planalto até aqui.

Inspirado nesse ‘novo momento’, o senador Veneziano Vital do Rêgo, tenta lançar candidatura própria ao governo da Paraíba na tentativa de estancar a desidratação do partido e recuperar a competitividade de outrora. Tarefa hercúlea. Veneziano não tem cartas na mesa para formar uma chapa forte. Até tentou uma composição frustrada com o líder tucano Cássio Cunha Lima, o que deixou sua situação bem embaraçosa no governo do qual ainda está na base. Andou rondando, também sem sucesso, o deputado federal Efraim Filho, do DEM/União Brasil, que tenta se cacifar como candidato de João Azevêdo (Cidadania) ao Senado.

O que aconteceu foi que ‘Vené’ foi com muita sede ao pote e acabou comprando briga com um aliado que, até o momento, não tem adversário na disputa à reeleição para o governo. Se indispôs com João e também com membros do MDB que enxergam precipitação no passo do senador. Caso de Raniery Paulino, na legenda desde 2006. Ao novo presidente da sigla, diz ele, “só interessa a disputa ao governo”. O deputado não esconde a insatisfação com Veneziano, nem a preocupação com a manutenção de cargos no Legislativo frente ao avanço de novas legendas e adversários. É o receio real de o partido ficar, literalmente, com mãos abanando, sem eleger ninguém. Raniery é único representante na Assembleia Legislativa do MDB que não fez nenhum federal em 2018.

De certo que quem não é visto não é lembrado, mas como um partido dividido pretende dar um passo maior que a perna? Veneziano não está errado em querer tirar o MDB da estagnação, ou, pra ser mais exato, da recessão de mandatos no Executivo, mas arrumar a casa, ao que parece, precisa ser uma prioridade. O MDB paraibano vem definhando a olhos vistos. Perdeu quadros importantes: Raimundo Lira, Manoel Júnior – que migraram para outras legendas – e, recentemente, José Maranhão, vencido pela Covid-19 em fevereiro. Nesta segunda-feira (6), houve uma reunião na sede do partido, em João Pessoa, para tratar de eleições. É um bom começo. Há de se ter um projeto sólido de recuperação. Afinal, uma crise não se resolve num estalar de dedos, nem num voo cego que pode custar muito caro à legenda.