Opinião

João, a saída é pela esquerda?

No final de dezembro, este blog cogitou a volta do governador João Azevedo ao PSB. O texto pode ser conferido neste link: https://politicaporelas.tv.br/2021/12/27/joao-de-volta-ao-psb-sera/. Naquela ocasião, João dizia: “em 22 o que é de 22”. E, enfim, cá estamos.

A estratégia adotada até agora pela articulação política do governador parece tentar reproduzir o cenário da eleição de 2018. A exemplo do que se deu nas eleições municipais de João Pessoa em 2016, a onda conservadora na Paraíba em 2018 não conseguiu ser surfada por nenhuma liderança de direita com tamanho para o Executivo. O que provocou foi um movimento centrípeto na política, produzindo um grande centro com um discurso de gestão técnica e de resultados.

Para quem saiu das urnas com quase 60% dos votos válidos, com gestão bem avaliada e oposição enfraquecida, a tentação pode ser tentar em 2022 ocupar novamente o centro, esvaziando os polos e trazendo para seu campo setores tanto da esquerda como da direita.

Mas, esta fórmula não dará resultados em cenários com forças centrífugas. Diferente de 2018, João agora conta com um forte polo se articulando em oposição ao seu governo, a partir do ex-governador Ricardo Coutinho e do ex-prefeito da capital, Luciano Cartaxo. Ambos no PT. Por isso, o movimento mais imediato de João poderia ser ocupar o outro polo, ao lado das forças mais conservadoras.

No entanto, se o governador quer repetir um resultado semelhante ao de sua eleição, o movimento deveria ser o contrário, reduzindo margens de manobra para a oposição à esquerda e assumindo ele próprio, com mais firmeza e nitidez, a liderança de um bloco progressista, contra uma direita enfraquecida, a partir de sua eventual filiação ao PSB. Senão vejamos:

Se João migrasse para o PSB provocaria um fato político de repercussão nacional e se somaria a Flávio Dino (MA) e Marcelo Freixo (RJ) num movimento de aproximação do PSB com o presidente Lula.

Porém, os impactos na Paraíba seriam ainda mais numerosos. Com uma só tacada, João neutralizaria os movimentos do ex-governador Ricardo Coutinho que trabalha para empurrá-lo para a direita. Ao mesmo tempo, estancaria os movimentos de Luciano Cartaxo, Veneziano Vital do Rego e Lígia Feliciano.

Teria ainda mais outros efeitos: poderia redesenhar sua relação com a base de apoio na Assembleia Legislativa, fortalecendo seus laços com Adriano Galdino, que já declara apoio ao presidente Lula. Fortalecendo ainda o discurso e o projeto que o elegeu em 2018 e pode manter o apoio do PT, com seu tempo de TV, estrutura e apoio de Lula para o seu palanque.

Claro que essa articulação com o PT deveria ser feita com os interlocutores certos e nas instâncias certas, sem mandar recados. E claro que os neopetistas na Paraíba não poderão se opor ao fato de um governador bem avaliado, que votou em Haddad em 2018, querer fortalecer a candidatura do presidente Lula. A cereja no bolo seria João ter em sua chapa um petista leal a Lula, mas que não diga amém para Coutinho e Cartaxo na Paraíba. Se estes cálculos estiverem certos, a saída de João é pela esquerda.