João e Veneziano: Lula quer “lá e lô” na Paraíba
“Estou absolutamente convencido de que é preciso fazer uma aliança com o MDB e Veneziano. Precisamos juntar mais gente”, disse Lula em entrevista à rádio Espinharas, no sertão paraibano, na noite da terça-feira (15).
A fala de Lula é uma reação provocada pelas articulações de Ricardo Coutinho após a filiação de João Azevedo ao PSB. É disso que se trata quando o petista fala da necessidade de aliança com o senador Veneziano do MDB.
Apesar de parte do PT celebrar a declaração como se esta fosse sinal de apoio incondicional ao emedebista, Lula não foi convicto. Não pisou firme. Não disse que seu único palanque será o de Veneziano. Além disso, não citou o nome do governador João Azevedo. Tudo isso é verdade. Mas, também é verdade que o Lula 2022 está ainda mais pragmático do que o Lula de 2002, como prova a indicação de aliança com o ex-tucano e ainda neoliberal Geraldo Alckmin.
Esse pragmatismo joga no ar a seguinte pergunta: por que motivo o petista rejeitaria apoio de um governador bem avaliado e filiado a um partido aliado? É sabido que na Paraíba apenas Ricardo Coutinho tem força e prestígio suficientes para articular uma declaração de Lula com aquele nível de envolvimento. Ao mesmo tempo, Lula sabe que entre João, Ricardo e o PT as disputas não são ideológicas. Prova inconteste é a fotografia de 2018, quando todos estavam no palanque com Fernando Haddad. Aliás, se existirem problemas ideológicos, eles virão à tona com prints de declarações de dirigentes petistas sobre o posicionamento de Veneziano no golpe contra Dilma. O campinense votou pela investigação da presidente por um crime de responsabilidade que nunca existiu.
A fala de Lula, no entanto, expõe fissuras na estratégia política de João Azevêdo. Antes de carimbar o apoio ao ex-presidente, João elogiou Luciano Huck e titubeou no apoio ao petista. Em diversos momentos, podendo ser taxativo, tergiversou e colocou Lula como opção de segundo turno. Ricardo Coutinho aproveitou o terreno à esquerda, ocupou o espaço vazio e voltou a crescer depois das eleições 2020. Fora tudo isso, João ainda perde um tempo importante gerenciando as questões de seu palanque, que hoje parece um barco com excesso de carga.
Choque de realidade I – Embora essas questões tenham dimensão inflada localmente porque envolvem o comando do estado e a polarização entre lideranças locais que já estiveram no mesmo palanque como aliados políticos, a Paraíba não é um estado decisivo na eleição presidencial, portanto, não parece plausível que entre na lista de prioridades de problemas políticos a serem resolvidos pela coordenação geral de Lula.
Choque de realidade II – Ninguém se torna governador por concurso público. O discurso de governo técnico só é viável em ondas de despolitização da política. Um exemplo disso é a gestão do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo: o mesmo discurso que lhe serviu para a reeleição em 2016 – como se fosse possível fazer política sem tomar posição – rendeu uma gestão bem avaliada, mas sem condições de colocar sua sucessora sequer no segundo turno. A palavra de ordem é Política. Ricardo tem se movimentado bem no jogo. João precisa contra-atacar.
Moral da história – Se Lula defendeu a aliança com Veneziano, falou também que é preciso juntar mais gente, ou seja, ampliar o arco de alianças. Assim como tem acontecido em anos anteriores, surpresas podem surgir até minutos antes do início das convenções partidárias. Cenário em aberto.