Opinião

A política como ela é – João sofre baixas e responde com exonerações

O governador João Azevêdo exonerou todos os funcionários da saúde  em cargos de confiaça ligados ao Dr. Aledson Moura (União), de Princesa Isabel, sertão paraibano. A lista completa está no Diário Oficial do Estado (DOE) deste sábado (8).

A canetada de João, segundo o médico, que trabalhou para João Azevêdo durante todo o primeiro turno da campanha ao governo da Paraiba e que foi ligado ao grupo por cerca de uma década, “prejudicou, pelo menos, 120 famílias que votaram nele”.

Funções de confiança são de livre nomeação e exoneração, estão previstos no artigo 37, inciso II, da constituição federal. Em miúdos, contratados nesta condição podem ser desligados a qualquer momento, sem maiores explicações ou motivações. Mas, neste caso, a motivação de João foi cristalina.

Entenda

Dr. Aledson rompeu politicamente com João Azevêdo neste segundo turno das eleições, e passou a apoiar seu principal adversário, o tucano Pedro Cunha Lima. Um movimento que se explicaria dadas às circunstâncias em prejuízo do médico que disputava uma vaga na Assembleia Legislativa da Paraíba.

Apesar de seu apoio, Dr. Aledson alegou falta de apoio de Joã0 a sua campanha. DIsse também que teria sido impedido de falar na Caravana 40 realizada em Princesa Isabel. Nesse episódio, especificamente, um outro revés: em sua própria casa, revelou que viu o governador anunciar e reforçar apoio a outro candidato.

Daí se tira que a migração  para a oposição foi motivada pelo que seria um prévio abandono de João e que isso teria custado a eleição do médico. Esse é o pano de fundo.

Dito isto, voltamos ao ponto das exonerações. Subjetivamente, estão carregadas de tinta que para o grupo do Dr. Aledson soa à perseguição política. Objetivamente, porém, seguiram o rito legal.

Coisas da política. Política corriqueira. Como diria uma fonte :”política é disputa, boicotes ou apoios fazem parte do jogo”.

Outras baixas

Apesar de comemorar o apoio de 67 prefeitos na última semana, o projeto de reeleição de João Azevêdo sovem sofrendo baixas. Taciano Diniz (União), deputado eleito com mais de 30 mil votos, assim como Dr.Aledson, declarou apoio a Pedro no segundo turno. Benjamin Maranhão (MDB) também, seguindo o apoio mais expressivo do tucano nos últimos dias: o de Veneziano Vital do Rêgo (MDB), ex-base de João, em quarto na disputa pelo governo, com 373.511 votos, 17,16% do total.

E há o risco de novas baixas. A turma do Republicanos ameaça trocar de lado. Há rumores fortes sobre isso envolvendo os Galdino. Adriano, presidente da Assembleia, tem barganhado sem cerimônia seu apoio a João em troca da reeleição para a presidência da Casa. Há mais em jogo que a gestão dos recursos repassados pelo governo por meio do duodécimo (313 milhões a.a). O deputado está de olho em 2026. Com João, apoiado pelos Ribeiro, vencendo a eleição, sua chance de disputar o Senado cai por terra. Ocorre que as possibilidades de Galdino são remotas também no campo liderado pelos Cunha Lima.

Ponto de interrogação

Apesar de ter vencido o primeiro turno com mais de 300 mil votos de diferença do segundo colocado, não há jogo ganho para João ainda. Basta ver o  desempenho do socialista nos dois maiores colégios eleitorais do estado.

Em João Pessoa, o socialista ficou em segundo lugar com 123.174 (29,20%), perdendo para o bolsonarista “raiz” Nilvan Ferreira (PL), que teve 131.187 votos (31,10%). Pedro ficou em terceiro, com 111.766 votos (26,50%); Veneziano em quarto, com 49.252 (11,62%).  Os demais candidatos ao governo da Paraíba, juntos, não somaram sequer 1% dos votos. Veja resultado aqui.

A diferença entre João e Pedro foi de 2,70% apenas, ou seja, 11.408 votos. João deve herdar boa parte dos votos de Veneziano apesar do apoio deste a Pedro e em virtude de o atual governador  estar com Lula, representando uma candidatura mais “à esquerda”. Contudo, dificilmente herdará algum voto de Nilvan. Os eleitores alinhados com Jair Bolsonaro teriam, em tese, mais facilidade de identificação com Pedro, da ala jovem do tucanato que defendeu, em 2018, adesão a Bolsonaro. Esses mesmos eleitores hão de lembrar que o “cabeça preta” paraibano se posicionou firmemente contra o impachment de Jair.

Em Campina Grande, foi Pedro o vencedor do primeiro turno com 78.124 votos (34,40%). João terminou em quarto, com 38.078 votos (17,25%), atrás de Nilvan, que recebeu 54.301 votos (24,60%) e Veneziano, com 48.390 (21,43%).

No frigir dos ovos…

Quem recebeu novas adesões neste segundo turno em peso e volume foi Pedro. Circula entre os eleitores do tucano, inclusive, várias imagens dele com Lula, o que denota, para além do cenário confuso e uma limitada influência da disputa nacional na disputa para o Executivo local, uma articulação política inteligente da campanha da oposição que está transitando entre os dois lados  – algo inédito por essas bandas, quiçá no país.

Mas…

Há um vídeo de Pedro acenando para grupos políticos evangélicos radicalizados que apoiam Bolsonaro em que ele faz menção à ideologia nas escolas e ao  fechamento de igrejas. Essa pauta foi, em algum momento, atribuída a João Azevêdo e à esquerda por uma rede de ódio que produz e compartilha fake news. Quando Pedro assume esse discurso, entra em um terreno pantonoso, acena para bolsonaristas e endossa a mentira. No que faz isso, assume um lado que pode beneficiar seu adversário político.

A saída para João 

Pelo que os números mostram, a reeleição do socialista está dependendo de um melhor desempenho em João Pessoa. O atual governador precisa ganhar densidade eleitoral na capital para ampliar seus votos. Mais do que nunca João depende da força de Cícero Lucena (PP).

Outro ponto: ou a campanha de João trabalha para minar Pedro, colando a imagem do tucano a Bolsonaro para que ele não seja uma opção aos eleitores com perfil progressista, ou terá sérias dificuldades para seguir rumo a um segundo mandato, mesmo com a força da máquina e o poder da caneta. Acentuar sua relação com João Pessoa, o bairrismo de pessoenses e a competição capital-Campina, terra de Pedro e Veneziano, pode ser um caminho. Nada garante que seja efetivo.