Opinião

Lourdes Sarmento no PT e os desafios do partido que enfrenta oposição interna

Uma foto publicada no Instagram neste fim de semana chamou atenção, não pelo grupo propriamente dito, formado por fundadores do Partido dos Trabalhadores, mas pela presença que quase passa diluída, por assim de dizer, entre os militantes: falo de Lourdes Sarmento, ex-candidata a prefeita de João Pessoa e ao governo da Paraíba pelo PCO, o Partido da Causa Operária.

Lourdes Sarmento passou mais de duas décadas no PCO. Antes disso, ajudou a fundar o PT paraibano, lugar para onde voltou no início do ano segundo ela mesma confirmou. Sarmento agora integra o que seria uma “tendência minoritária” no PT de acordo com o presidente estadual, embora ele, Jackson Macêdo, afirme que desconhece a filiação dela: “A direção estadual não tá sabendo de nada. E acredito que a municipal também”, disse Macêdo.

Se minoritária ou não, pouco interessa. O fato é que Sarmento entrou no PT para engrossar o coro dos que defendem candidatura própria em 2024, juntando-se a outros grupos que resistem à ideia da executiva estadual de apoiar candidato que não seja petista para prefeitura de João Pessoa, a exemplo dos deputados estaduais Cida Ramos e Luciano Cartaxo. “Contra o avanço ultraliberal é preciso fortalecer o partido e ter candidato próprio”, afirma Sarmento.

Semana passada o Política por Elas apurou que um outro grupo que defende autonomia do PT esteve em Brasília: o ex-governador Ricardo Coutinho, a ex-deputada Estela Bezerra e a ex-prefeita do Conde, Márcia Lucena, estiveram com Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT. Na agenda, as saídas para o fortalecimentos do partido nos estados e municípios.

“Conversamos bastante sobre a conjuntura atual e sobre caminhos do PT em 2024 nas capitais. Mas foi apenas troca de ideias pois o Grupo Técnico Eleitoral (GTE) só será formado no partido a partir do meio do ano mas todos temos a consciência de que o PT, como principal partido brasileiro, deve buscar o seu fortalecimento para continuar mudando o Brasil. Esse foi o foco”, enfatizou Ricardo Coutinho.

Esse GTE vai discutir as eleições municipais 2024, até lá os esforços parecem estar concentrados nas estratégias para o fortalecimento democracia. “Estamos preocupados com a forma de fazer política e como a gente amplia esse sopro de democracia que colocou Lula no poder. Não podemos permitir qualquer aliança que enfraqueça essa luta e anteceda essa necessidade e o poder que a gente tem de transformar”, enfatizou Márcia.

Estela, contudo,  antecipa um “algo a mais” na construção de viabilidade de um nome petista para as eleições do ano que vem: “um partido nacionalizado, que tem um projeto político, deve se apresentar como alternativa para a sociedade. Estamos pensando em 2024, pensando em fortalecer a tese de uma candidatura própria e tivemos uma repercussão muito positiva e afirmativa da Executiva Nacional que, sendo o PT o partido que é, não pode fugir dessa responsabilidade que é ofertar para a sociedade soluções, saídas, alternativas, e a gente acredita que na Paraíba, em João Pessoa, o que nós apresentamos e o que a gente defende ainda terá e deve ter uma grande receptividade”, disse.

Nessa mesma direção apontam outras lideranças locais e militantes da “velha guarda” petista como Giucélia Figueiredo, ex-presidente do PT João Pessoa, destituída da função por força de uma intervenção do PT Nacional e que aparece na foto com Lourdes Sarmento. Resta saber o que Gleisi e os dirigentes nacionais do PT pensam sobre o que é solução para uma parcela petista paraibana e o que, para outra – alinhada com o governo de João Azevêdo – é um grande problema. Neste segmento enquadram-se Macêdo e outros nomes  do diretório estadual.

A grande questão é: que arranjos serão considerados, os nacionais ou os locais?  O PT incentivará protagonismo nas capitais em primeiro turno ou trabalhará para dar suporte a outras legendas do campo progressista, deslegitamando e silenciando os próprios atores como o fez na última disputa para a prefeitura da capital? Como atuará para gerenciar a crise que ora se anuncia dirá muito do PT como um partido.  Democrático ou autoritário? A resposta à oposição interna será termômetro… ou confissão de culpa.