Opinião

Racha no Cidadania nacional e movimentação da esquerda na Paraíba

Reunião da executiva nacional do Cidadania no último sábado (19) expôs um fratura interna com tendência de crescimento. Dirigentes, a exemplo de Nonato Bandeira, secretário de Comunicação da Paraíba, questionam o mandato do atual presidente Roberto Freire, há 31 anos no comando da legenda, o que, venhamos e convenhamos, não é nada democrático uma vez que  alternância de poder é pré-requisito da democracia.

Foi uma reunião tensa, com troca de acusações e xingamentos. Colocado contra a parede, Freire reagiu com um “cala-boca”. Foi provocado por Nonato: “quem perde a compostura não tem condição de liderar”, disse o paraibano. Cada vez mais isolado, Freire perdeu a primeira queda de braço: na reunião, a maioria aprovou uma resolução para antecipar a eleição de uma nova Executiva Nacional, prevista para 9 de setembro. Eleição estada qual o atual presidente não poderá participar devido à recente mudança no estatuto do partido.

Há um outro ponto que tem acentuado essa crise no Cidadania: a federação com o PSDB. A união com o tucanato se deu, principalmente, para aumentar o capital do partido quanto ao fundo partidário e ao tempo de TV. Foi uma decisão pragmática. Ocorre que há divergência programática. O próprio Nonato sugere fratura incorrigível, como a declaração de independência da bancada federal, composta de cinco deputados alinhados ao bolsonarismo, pós adesão do Cidadania ao governo Lula.

Nonato acusa Freire de “destruir o partido”. Quanto à federação, nada mais pode ser feito. O casamento deve durar pelo menos quatro anos. Já em relação à presidência nacional da legenda, a permanência de Freire parece insustentável. Ele próprio o reconheceu: “não posso ser mais presidente”, afirmou um dia após o racha.

Também no fim de semana…

O Partido dos Trabalhadores e o PSOL reuniram a militância em João Pessoa.

No caso do PT foi para a quinta Caravana Regional, que contou com representantes de 14 municipios. Um evento para discutir estratégias eleitorais para 2024, e um termômetro para sentir a disputa interna quanto a uma possível candidatura própria. Nomes não faltam: os deputados estaduais Luciano Cartaxo e Cida Ramos são dois deles, mas encontram resistência da Executiva Estadual.

Já no caso do PSOL o encontro se deu para definir a nova direção do partido na capital e os rumos da legenda para 2026, o que já demonstra que as eleições municipais não são a prioridade da legenda.  Também houve plenárias em Bayeux, Santa Rita, Conde, Sousa, Sapé e Mamanguape. Um novo encontro regional está marcado para quarta-feira (23).

Donde se tira…

PSol e PT  possuem uma dinâmica que incentiva o engajamento e a participação democrática de seus membros. O processo é um sinal da busca por transparência. Entretanto, cabe uma questão: até que ponto essas prévias atendem, de forma genuína, a vontade das bases  dos partidos?

No caso do PT pessoense…

Há tensões ideológicas próprias das dinâmicas de poder que conflitam com a política de coalizão nacional e estadual e que sugerem um desafio interno ao status quo do partido. Como o PT vai equilibrar sua identidade e a relação com alianças políticas mais amplas em um contexto de disputa eleitoral é que são elas.

Não custa lembrar…

Em passado recente, a insubordinação do Diretório Municipal não pegou bem para os que defenderam candidatura própria. Houve intervençao no DM por parte da Executiva Nacional e expulsão de Anísio Maia, um dos fundadores do PT na Paraíba, fiiliado atualmente ao PSB. A burocracia partidária falou mais alto. De certo que o contexto é outro, mas a palavra final é do DN, que não pensará duas vezes se tiver de optar pelos seus interesses em detrimento do cenário local.

Antes das urnas

Há uma competição interna a ser decidida pelo PT de João Pessoa. Primeiro passo: emplacar candidatura própria. Segundo: escolher um dos protagonistas . A figura de Cartaxo, ex-prefeito da cidade por dois mandatos, traz consigo tanto o capital político de sua gestão quanto as incertezas que cercaram seu legado ao não conseguir eleger sua sucessora. Por outro lado, Cida Ramos, que concorreu à prefeitura em 2016 pelo PSB, introduz a dinâmica da renovação.