Nilvan Ferreira e o “timing” da política: desistência em João Pessoa, possibilidade em Santa Rita
Na política, antes a virtude que a sorte. Não foram exatamente estas as palavras do italiano Nicolau Maquivel, mas a literalidade, aqui, é o menos importa. Por trás do pensamento do filósofo que traçou como ninguém as dinâmicas da política real repousa a ideia de que o virtuoso é aquele que sabe o momento certo de agir e até mesmo o de nada fazer para manter ou ampliar seu poder. Em outros termos, é preciso ter “timing” para nao perder o jogo e virar uma carta fora do baralho.
Na política paraibana exemplos não faltam: o ex-governador Ricardo Coutinho perdeu o “timing” quando que deixou passar a chance de se afastar do comando do Estado para disputar o Senado. Sem mandato, caiu em desgraça: foi denunciado pelo Ministério Público por lavagem de dinheiro (entre outros crimes) na Operação Calvário. Quando tentou remediar, amargou derrota acachapante nas urnas.
Por outro lado, há os que souberam aproveitar o “timing” e ventos favoráveis: Cícero Lucena, prefeito de João Pessoa, beneficiado pelo cenário altamente polarizado em 2020, retornou à disputa eleitoral depois de anos de ostracismo, vencendo o bolsonarista Nilvan Ferreira em segundo turno.
Por falar em Nilvan…
O radialista e apresentador de TV conseguiu algo notável naquela eleição, desbancando o ex-tucano Ruy Carneiro. Nilvan obteve 163.030 votos (46,84%). Dali, com tamanho capital eleitoral, esperava-se que ele mantivesse também o capital político e apoio da extrema-direita para uma nova candidatura em João Pessoa. O revés veio do próprio partido, o PL, e de Jair Bolsonaro, a quem o radialista bateu continência até dia desses. O grupo optou pelo nome de Marcelo Queiroga, ex-ministro da Saúde do capitão. Sem apoio interno e remota possibilidade de alianças significativas, o radialista desistiu de disputar a prefeitura de João Pessoa.
Nilvan perdeu o “timing”, provou da política real, que não afaga, nem beija, mas apedreja se for o caso. Sem o exato tempo da ação, ficou com o desencanto. Não lhe sobre sorte, nem virtude. Pelo menos na capital.
Contudo, porém, todavia…
Gostem ou não, Nilvan é figura proeminente na política paraibana – foi projetado pelo bolsonarismo, mas consegue ter vida própria. A desistência anunciada abriu espaço para diversas especulações. Isso porque essa decisão não apenas muda o tabuleiro eleitoral da capital, mas projeta um novo cenário em Santa Rita, para onde agora ele foca sua atenção.
A pergunta que ecoa é…
Quem se beneficiará da “herança eleitoral” deixada por Nilvan Ferreira em João Pessoa? Embora não esteja claro para onde seus eleitores migrarão, é evidente que sua desistência cria uma oportunidade para outros candidatos, especialmente para Cícero Lucena, que vai disputar a reeleição. Com a possibilidade de absorver uma fatia significativa dos votos de Nilvan, Lucena vislumbra a chance de uma vitória já no primeiro turno, consolidando assim sua posição política na cidade.
Enquanto isso…
Em Santa Rita, Nilvan se prepara para uma nova empreitada política, com uma situação eleitoral mais favorável e apoio de um grupo de vereadores órfãos de uma liderança de extrema-direita. Resistência? Terá! Aliás, tem! A candidata da situação, esposa do deputado Felipe Leitão, tem o apoio do governador João Azevêdo (PSB). Se vai usar Bolsonaro como muleta mais uma vez? Provalvelmente. A política cobra pragmatismo, astúcia e necessidade de adaptabilidade. Nilvan jogou a toalha em João Pessoa, mas, ao que parece, não quer perder o “timing” no município vizinho. Se vai colar, aí são outros quinhentos.
Esse senhor é o que existe de mais expurgo na extrema direita de João Pessoa. Parcialmente nos livramos de sua candidatura em João Pessoa. Coitado do povo de Santa Rita. Inclusive conheço algumas pessoas que estão se mudando de lá por conta dessa candidatura de extrema direita.