“O algoritmo do ódio senta-se à mesa de todos”, diz ministra Carmem Lúcia
A nova presidente do Tribunal Superior Eleitoral se comprometeu a combater o “algoritmo do ódio” nas redes sociais. Em seu discurso de posse, a ministra Cármen Lúcia fez um alerta às grandes empresas de tecnologia, prometendo responsabilizá-las pela disseminação de desinformação que afeta o debate político.
“A mentira espalhada pelo poderoso ecossistema digital das plataformas é um desaforo tirânico contra a integridade das democracias”, justificou.
Cármen Lúcia destacou que essas mentiras “alimentam indústrias” e “enriquecem seus donos”. Para aqueles que ainda têm uma visão romantizada das redes, ela lembrou que as grandes plataformas lucram bilhões com o ódio e a desinformação.
Ela descreveu as fake news como um vírus que “contamina escolhas” e “adoece relações” na sociedade.
“O dono do vírus produz o próprio ganho político, econômico, financeiro, social e eleitoral. O algoritmo do ódio, invisível e presente, senta-se à mesa de todos”, afirmou.
Segundo a ministra, no vale-tudo pelo clique, as big techs deram um megafone ao extremismo, amplificando as vozes dos radicais, aprisionando o público em bolhas, fomentando a violência e a demonização do outro.
Ao descrever esse cenário digital descontrolado, a ministra criticou as forças que “plantam o medo para colher a ditadura”.
“Se não rompermos o cativeiro digital, chegará o dia em que as próprias mentiras nos matarão”, dramatizou.
A presidente do TSE acertou ao identificar o vírus que ameaça as democracias, mas ainda precisa apresentar um antídoto eficaz para neutralizá-lo.
Em seu discurso de posse, ela afirmou que “a mentira será duramente combatida” e que “o ilícito será punido na forma da legislação vigente”. No entanto, o problema é que as normas atuais não acompanham a velocidade da indústria da desinformação.
Em fevereiro, o TSE editou uma resolução para regular o uso da inteligência artificial e tentar coibir as chamadas deepfakes, que manipulam áudios e imagens para enganar o eleitor. A medida era necessária, mas seria ingênuo acreditar que a questão está resolvida.
Como lembrou Cármen Lúcia, a Justiça terá quase 6 mil eleições para fiscalizar este ano. E a democracia tem perdido essa guerra em escala global.