A culpa é da morfina?
A morfina foi inventada em 1805 pelo farmacêutico alemão Freidrich Sertuner. Ela é derivada da papoula. E, por causar sonolência em quem a toma, Sertuner resolveu fazer uma homenagem à divindade grega Morfeu, filho de Hipnos, o deus do sono. Daí originou-se seu nome. Essa droga serve para aliviar a dor. Mas é a primeira vez que é usada como desculpa para se cometer um crime contra a democracia.
Jair Bolsonaro, em seu depoimento de mais de 2 horas à Polícia Federal, afirmou que publicou, por engano, logo depois dos atentados do 8 de janeiro, o tal vídeo contra o sistema eleitoral brasileiro. Cinicamente, alegou que estava sob o efeito da referida droga.
O vídeo em questão é o menor dos seus crimes cometidos contra a democracia. É apenas a cereja do bolo golpista que Bolsonaro fermentou ao longo do seu desastroso governo. Durante quatro anos, o ex-presidente achincalhou o sistema eleitoral brasileiro. Desqualificou milhares de pessoas que trabalharam diretamente na Justiça eleitoral e, por fim, recusou-se a reconhecer sua derrota.
Por diversas vezes, Bolsonaro propagou mentiras sobre fraudes nas urnas eletrônicas. Chegou a afirmar que ele havia ganhado a eleição presidencial em 2018 já no primeiro turno. Como se não bastasse, reuniu dezenas de embaixadores estrangeiros em Brasília para vilipendiar a nossa democracia. Por último, respaldou, com seu silêncio eloquente, as manifestações em frente aos quartéis que clamavam por um golpe militar.
Bolsonaro é um mentiroso contumaz. Como todo criminoso, não preocupa-se com a verdade dos fatos, apenas com as versões espúrias para livrar-se de possíveis penalidades. Ele já prestou dois depoimentos à PF. Nos dois, mentiu sem desfaçatez. Mas o cerco sobre ele está se fechando e não há morfina que o livre da dor advinda das penalidades.