Bolsonaro e as lições de Goebbels

 

A frase “Repita uma mentira cem, mil, um milhão de vezes e ela se tornará uma verdade” é atribuída a Joseph Goebbels, ministro da propaganda do governo nazista na Alemanha (1933-45), durante o longo e terrível período em que Adolf Hitler esteve no poder.

As mentiras propaladas pelos nazistas visavam consolidar o poder de Hitler mediante a aniquilação dos oponentes: os democratas, os socialistas e os judeus, seus principais alvos. Com o discurso de ódio bem articulado contra os “inimigos” e repetição de inverdades, além do emprego sistemático da violência contra os adversários, o nazismo foi se ramificando e conquistando corações e mentes dos alemães. A tragédia humana desencadeada pelo nazismo tem consequências até os nossos dias.

Guardada as devidas proporções, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vem utilizando a mesma estratégia propagandística muito bem urdida por Goebbels. Impactado com o resultado de todas as pesquisas eleitorais, que apontam para sua derrota nas urnas no próximo pleito, Bolsonaro apela para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro. Seu temor em perder o poder, e ser responsabilizado criminalmente por seus atos, tem acelerado suas críticas infundadas contra as urnas eletrônicas.

Em pronunciamento realizado no dia 16 de maio, durante um evento com empresários em São Paulo, Bolsonaro declarou que “tudo pode acontecer” e se referiu ao pleito de outubro como “eleições conturbadas.” As acusações contra o sistema eleitoral brasileiro, implantado no Brasil a partir de 1996 e já desmentidas diversas vezes pela Justiça Eleitoral, tem como objetivo manter sua tropa em constante mobilização nas redes sociais e em eventuais mobilizações de rua.

Em outro evento realizado no dia seguinte, dessa vez em Sergipe, Bolsonaro voltou a atacar as urnas eletrônicas e conclamou aos presentes o emprego de armas de fogo, caso ele perca a eleição. Sob o falso argumento de defesa da democracia, Bolsonaro afirmou: “a arma de fogo, além de segurança para as famílias, é segurança para nossa soberania nacional e a garantia de que a nossa democracia será preservada. Não interessam os meios que um dia porventura tenhamos que usar.”

Mais mentiras, bem no estilo de Goebbels. Todos os analistas de segurança sérios são unânimes na análise de que quanto mais armas circulando, mais crimes são cometidos. Além disso, como escreveu o cientista social Max Weber, o monopólio da força deve ser atribuição do Estado, e não de grupos civis armados tentando impor sua vontade política.

Bolsonaro tem sido cristalino nas suas intenções. O recado está dado. Só não entende quem não quer. Caso perca a eleição, ele irá apelar às armas de fogo para manter-se no poder a todo custo e “nunca será preso”, como esbravejou publicamente essa semana.

Sobre Goebbels, vale dizer como foi seu fim. Após a derrocada do Estado nazista e a aproximação do poderoso Exército Vermelho, Goebbels matou a esposa, seus seis filhos e depois cometeu suicídio num bunker, bem próximo do seu líder Adolf Hitler, que também se suicidou.