Colômbia em Chamas

Lúcio Flávio Vasconcelos

A Colômbia é mundialmente conhecida por sua estabilidade política e três personalidades: o escritor Gabriel García Márquez, o pintor e escultor Fernando Botero e o narcotraficante Pablo Escobar. Agora, em consequência dos fortes protestos sociais, ganhou as manchetes internacionais.

No dia 28 de abril, uma greve geral irrompeu na Colômbia. O movimento paredista irradiou-se por todas as cidades. Escolas, comércio e transportes foram paralisados. Milhares de pessoas ocuparam as ruas. Conflitos violentos entre manifestantes e forças policiais deixaram dezenas de feridos e 26 mortos.

Mesmo com a forte repressão e a epidemia do Coronavírus, as mobilizações continuaram por todo o país. Lojas foram saqueadas, ônibus incendiados e prédios públicos depredados. O governo do presidente Iván Duque, do Partido Centro Democrático, se viu acuado pelos protestos.

O estopim da greve foi uma proposta de reforma tributária apresentada pelo governo. Dentro dos moldes neoliberais, o pacote econômico previa um aumento de 19% nos impostos sobre os serviços públicos, como gás e energia. Também incluía reformas nas áreas de saúde e trabalhista.

O presidente Duque recuou diante da onda de protestos. Alberto Carrasquilla, ministro da fazenda, renunciou ao cargo. Temendo o recrudescimento da mobilização, o governo retirou do congresso o pacote econômico que prejudicaria a maioria da população.

Assim como os demais países da América Latina, a Colômbia tem uma história dramática. Em 9 de abril de1948, o candidato a presidente Jorge Eliécer Gaitán foi brutalmente assassinado, desencadeando uma onda de protestos populares. O episódio, com um saldo de mais de três mil mortos, ficou conhecido como Bogotazo.

A partir da década de 1960, inspirados na Revolução Cubana, grupos guerrilheiros começaram a agir nas selvas colombianas. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), O Exército de Libertação Nacional da Colômbia (ELN) e o Movimento Guerrilheiro 19 de Abril, lutaram contra os sucessivos governos liberais do país.

Após décadas de uma violenta guerra de guerrilha, com assaltos espetaculares, sequestros de personalidades e terríveis combates com as forças de segurança, a era revolucionária acabou. Os grupos guerrilheiros deixaram de existir como ameaça concreta ao establishment. A Colômbia entrou num período de estabilidade política.

Os fortes protestos populares ocorridos nos últimos dias demonstram que a Colômbia não é um paraíso democrático. De acordo com a ONU, em relatório publicado em 5 de dezembro de 2019, a Colômbia tem uma das mais altas concentrações de renda do mundo, onde 1% da população retém 20% da riqueza.

Enquanto os problemas estruturais não forem solucionados, periodicamente a Colômbia, assim como os demais países da América Latina, mergulhará em profundos conflitos sociais.