Ficção em realidade
O Homem que Amava os Cachorros (editora Boitempo) é um romance histórico explosivo. Com a sagacidade de jornalista, erudição de historiador e verve de ficcionista, o escritor cubano Leonardo Padura reconstrói, a partir de uma Cuba em crise, a trajetória de Leon Trotsky, um dos líderes da Revolução Russa, e Ramón Mercader, seu assassino.
Ao fundo, como um espectro sombrio, paira Joseph Stalin, o ditador soviético que domou a revolução com mão de ferro e eliminou todos seus oponentes, entre eles Trotsky. Stalin foi endeusado, durante muitos anos, como “O Grande Guia do Operariado” por comunistas no mundo inteiro. Os tolos adoram transformar simples homens em mitos. Sejam de esquerda, sejam de direita.
Através de uma escrita envolvente, Padura reconstitui momentos épicos e dramáticos da história do século XX num thriller de espionagem de tirar o fôlego. Sob nossos olhos, vemos a ascensão do nazismo, os expurgos stalinistas e a derrocada do socialismo na Europa.
Enquanto desnuda esses acontecimentos, o autor nos conduz pelas ruas de uma Barcelona dilacerada pela Guerra Civil Espanhola e nos faz acompanhar o duro exílio de Trotsky na Sibéria, na Turquia, na França, na Noruega e, finalmente, no México, seu derradeiro desterro, local onde se apaixonou perdidamente pela pintora Frida Khalo e perdeu a vida.
Simultaneamente, somos transportados no tempo e no espaço. Leonardo Padura nos leva pelos bairros tortuosos de uma Havana quente, decadente e ainda crente na revolução já corroída pelo medo e pela indigência, cidade onde Ramón refugiou-se do frio de Moscou até sua doença terminal.
Guerras, esperanças, revoluções, traições, paixões, amores e desilusões são triturados no romance, em equilíbrio perfeito. Leitura imprescindível para se compreender que os graves momentos da história do século XX (Revolução Soviética, Guerra Civil Espanhola e Revolução Cubana) são feitos por homens e mulheres, dotados de sangue e nervos, dúvidas e certezas, força e fraqueza, coragem e covardia. Todos envoltos numa vertiginosa espiral de erros e acertos.
Afinal, somos humanos. Dolorosamente humanos, como todos estamos condenados a ser.