O crescimento preocupa o BC; e o conflito nuclear, aterroriza o mundo

Há dois acontecimentos recentes a destacar: o Federal Reserve (Fed), Banco Central dos EUA, resolveu reduzir os juros básicos em 0,5% e, na contramão, o Banco Central no Brasil, decidiu elevar a nossa taxa básica Selic em 0,25%, de 10,5% para 10,75%. Para o Fed, a medida visa a estimular o crescimento, uma vez que a inflação está controlada e convergindo para a meta de 2%. O Fed, além de ser responsável pelo controle da moeda, deve cuidar do desemprego e do crescimento. A duplicidade de missão deste tipo, no nosso caso, consta explicitamente da LC 179/21, que trata da autonomia do banco central. La se afirma que um dos objetivos da instituição é “fomentar o pleno emprego”. Isto nunca saiu do papel e ninguém do BC fala desta segunda missão do Banco.

O que causa espanto, na situação atual, é que os argumentos apresentados para a elevação da Selic são ilógicos e absurdos. O Relatório Trimestral da Inflação do próprio banco, agora divulgado, afirma que, para o acumulado do ano, o IPCA estimado mantêm-se em 4,3%, dentro do intervalo de tolerância da meta (3% mais ou menos 1,5%). Além disso, o IPCA-15 de setembro (indicador antecedente da inflação) foi de 0,13%, inferior ao de agosto, que ficou em 0,19%. Assim, não há no horizonte nenhum novo motivo de alarme que justifique o açodamento. Aguardaremos a publicação da ata da reunião para maiores comentários. Por enquanto vamos lembrar que, como mostramos na análise anterior, a inflação continua contida e dentro da meta. A decisão de elevar os juros é, portanto, puramente política e visa a prejudicar o programa de crescimento do governo Lula. O que está aterrorizando o BC são os prognósticos de crescimento da economia, com o aumento do emprego e a melhora no rendimento dos trabalhadores. Até a OCDE já aumentou suas estimativas, para o crescimento do Brasil, de 1,9%, neste ano, para 2,9%. Atenção! Perigo! O crescimento vem aí! Eis o nervosismo do BC.

Se no campo econômico não há grandes novidades, no campo político há acontecimentos que merecem referência. A afirmação de que o governo pretende criar uma “autoridade climática”, com poderes para enfrentar as emergências que têm surgido, como consequência do aquecimento global, pôs a “bancada ruralista” no congresso em polvorosa. O presidente da câmara, Arthur Lira, saiu furioso afirmando que a tal autoridade terá de ser escolhida em consenso com o legislativo. A bancada ruralista, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e a Comissão de Meio Ambiente da Câmara também já se mobilizaram, antecipando a recusa do nome da ministra do Meio ambiente, Marina Silva, como possível indicada, bem como não aceitando o seu ministério, como local de sede para a “Autoridade”. O PL, partido do Bolsonaro, foi mais ousado e já se pronunciou contra a criação do novo cargo. Um abacaxi para o Lula resolver. Mais uma vez evidencia-se o caráter reacionário do Congresso Nacional, onde cada ação tem que ser arrancada com grandes dificuldades.

Em relação à campanha eleitoral tudo segue sem grandes novidades. Em alguns estados e cidades a disputa revela-se como um embate entre Lula e Bolsonaro. Ambos estão empenhados no confronto e fazemos votos de que a derrota do milico seja esmagadora. No entanto, é de espantar a falta de compreensão, das forças de esquerda, para a importância deste embate. Continuamos a não saber fazer política e racionalizar o voto. Aqui em João Pessoa, o PT, por exemplo, não consegue unir nem suas próprias forças.
No panorama internacional, os dois grandes acontecimentos continuam a dominar todos os noticiários: a guerra na Ucrânia e o conflito em Gaza, que corre o risco de tornar-se uma guerra generalizada na região.

A guerra na Ucrânia assume novas dimensões, com a Europa fornecendo armas que permitem a Zelensky atingir mais profundamente o território da Rússia. A utilização de armas, cada vez mais potentes, leva-nos à beira do conflito atômico. Em Gaza, continua a violência sem limites dos bombardeios Israelenses. Com o conflito estendendo-se ao Hezbolah, passaram a ocorrer também no sul do Líbano. O pretexto é sempre o mesmo: liquidar dirigentes do grupo árabe aliado do Hamas. Israel vem bombardeando indiscriminadamente as cidades, não respeitando residências, escolas, hospitais etc. Já se contam em centenas o número de mortos e feridos. E tudo isto com a conivência, e mesmo o apoio, dos países da União Europeia e dos EUA. Os generais da OTAN certamente estão exultantes.

Causou espanto o cinismo do Netaniahu ao discursar na Assembleia Geral da ONU. Foi uma ameaça direta à comunidade internacional e uma declaração de desrespeito a todas as resoluções que a organização já tomou ou venha a tomar. Apesar das vaias e do abandono da sala pelos representantes de várias nações, o genocida retirou-se da reunião de cabaça erguida orgulhoso de seu feito, deixando no ar a ameaça iminente de uma invasão do território libanês por terra.

Nada nem ninguém consegue deter a besta do apocalipse. A falência completa da civilização ocidental continua em marcha. É preciso buscar uma nova alternativa.