O criador e a criatura
O movimento bolsonarista tem fortes características de uma seita religiosa fundamentalista. Um líder considerado infalível, seguidores fanatizados que acreditam estar numa cruzada do bem contra o mal e total aversão ao pensamento divergente.
Todos aqueles que ousaram discordar de Jair Bolsonaro (PL), o sumo sacerdote da extrema direita, foram massacrados pelas milícias digitais e passaram a amargar o ostracismo político. O ex-governador de São Paulo João Dória e o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel são os exemplos mais notórios. Eles ganharam força e prestígio à sombra de Bolsonaro. Hoje estão no obscurantismo.
O político mais recente na mira dos bolsonaristas é Tarcísio de Freitas (PR), atual governador de São Paulo. Carioca de nascimento e militar de formação, até 2022 era totalmente desconhecido dos eleitores paulistas. Abençoado por Bolsonaro, Tarcísio ganhou a eleição no mais rico e populoso estado do Brasil. O criador fez a criatura.
Mas a aliança entre os dois acabou. Por apoiar a reforma tributária, contrário ao direcionamento dado por Bolsonaro, Tarcísio de Freitas entrou em rota de colisão com o líder máximo da seita direitista. A partir daí, as hostes bolsonaristas passaram a bombardear o governador de São Paulo, acusando-o de traidor.
O cenário político nacional mudou para Bolsonaro. Para pior. Ele tem acumulado derrotas sucessivas. Além de ter perdido a reeleição presidencial, tornou-se inelegível por 8 anos por decisão do TSE.
O poder não admite fracassos. Com seus erros políticos e sem a caneta Bic na mão, Bolsonaro caminha célere para uma radicalização maior à direita e um isolamento dos setores conservadores que ele tanto deseja continuar liderando.