O golpe dos manés

O Brasil já foi palco de muitas tentativas de golpes de Estado. Alguns foram bem sucedidos. Outros resultaram num rotundo fracasso. Mas o putsch perpetrado em 8 de janeiro pelas hostes bolsonaristas entrará para a história como o mais violento e depredador de todos. Apenas para comparação, vamos relembrar alguns deles que não tiveram sucesso.

Na madrugada de 11 de maio de 1938, a milícia integralista atacou o Palácio da Guanabara, então sede do governo federal. O objetivo era depor o presidente Getúlio Vargas. Liderados pelo tenente Severo Fournier, os integralistas foram recebidos a bala por integrantes da família Vargas. O golpe fracassou. Cerca de 1500 fascistas brasileiros foram presos e Plínio Salgado, o líder máximo do Integralismo, foi para o exílio.

Em 1954, um golpe militar contra o presidente Getúlio Vargas estava em curso. Acusado de populista por favorecer os mais pobres e abrir espaço para os setores populares, Vargas estava com os dias contados. Na madrugada do dia 24 de agosto, Vargas suicidou-se e evitou que o poder fosse tomado pela direita.

Poucos anos depois, uma nova tentativa de golpe foi aventada. Dessa vez pelo histriónico Jânio Quadros. Ele havia sido eleito presidente em 1960, surfando numa onda moralista. Sonhando em ser ditador, Jânio Quadros renunciou ao mandado em 25 de agosto de 1961, Dia do Soldado, na esperança de que o exército desse o golpe e o entronizasse no poder. O autogolpe fracassou e Jânio partiu para o exílio.

Em 2021, incentivados por Bolsonaro, um populista fanfarrão que não reconheceu a vontade das urnas, bolsonaristas fanáticos passaram 60 dias cantando, marchando e gritando na frente dos quartéis pedindo intervenção militar.

Sem o respaldo dos poderes institucionais e sem contar com apoio da infinita maioria da população, os bolsonaristas aloprados tentaram tomar o poder numa tarde de domingo, quando os prédios públicos de todo o país estavam desocupados.

Enfurecidos com a derrota do seu mito nas urnas, os manés fantasiados de verde e amarelo decidiram agir. Invadiram as sedes dos três poderes, agrediram policiais, vandalizaram obras de arte, quebraram móveis e roubaram armas. Um show de barbárie que o mundo assistiu perplexo.

Agora que uma parte da turba de “patriotas” está usufruindo nos presídios do gosto de uma intervenção federal, percebe-se quanto mal o bolsonarismo causou nas mentes de muitos brasileiros. Enquanto isso, Bolsonaro usufrui da doce vida na Flórida. Por enquanto.
Quanto a tentativa frustrada de tomada do poder num domingo ensolarado, ela entrará para a história como o fracassado golpe dos manés.