Partidocracia versus democracia
O governo Lula (PT) é refém dos partidos do Centrão. Sem o apoio dessas agremiações fisiológicas, ele não conseguirá implantar minimamente sua pauta social. Sem o respaldo dos políticos conservadores, corre sério risco de ser defenestrado da presidência com um processo de impeachment. Este poder exacerbado dos partidos pode ser chamado de partidocracia.
A democracia surgiu em Atenas, há mais de 2500 anos, para que as decisões da sociedade fossem tomadas diretamente pelos seus cidadãos. Mesmo sendo elitista, pois excluía do processo decisório as mulheres, os estrangeiros, os escravos e os menores de 18 anos, foi a melhor invenção política da humanidade.
Ao longo dos séculos, a democracia foi sofrendo profundas alterações. O modelo atual de democracia representativa, que o Brasil tenta a duras penas manter, foi estabelecido nos Estados Unidos no final do século XVIII: partidos políticos organizados, voto individual e eleições periódicas para cargos no executivo e legislativo.
Mas, no século XXI, o modelo de democracia representativa tem demonstrado exaustão em todos os países em que vigora. Os partidos políticos têm adquirido poderes extraordinários de influência na sociedade que extrapolam suas atribuições iniciais, provocando um distanciamento cada vez maior entre os cidadãos comuns e os políticos profissionais.
A democracia está sendo substituída, paulatinamente, pela partidocracia. Isso se dá em consequência direta da hipertrofia do papel dos partidos políticos nas sociedades contemporâneas. As máquinas partidárias, cada vez mais fortes com os recursos públicos, ditam as regras governamentais. Populistas de direita como Donald Trump, Victor Orbán e Jair Bolsonaro precisam de poderosas estruturas partidárias para continuarem existindo politicamente.
Caso o modelo de democracia que temos não seja profundamente reformulado, com a diminuição do poder partidário e uma efetiva ampliação da participação popular nas esferas de decisão, corremos sério risco de ver o fosso entre a sociedade civil e os partidos distanciar-se de tão maneira que, finalmente, a partidocracia sufocará a democracia.