Pelas mãos de Aline
Bolsonaro fugiu do país. Ele não teve a coragem de tentar um golpe de Estado nem a dignidade de reconhecer a derrota eleitoral. Seus apoiadores mais renhidos, depois de passarem dois meses marchando e cantando nas portas dos quartéis, foram abandonados. Finalmente constataram o óbvio: não passavam de massa de manobra para um populista de direita falastrão.
No apagar das luzes do pior governo que o Brasil já teve, Bolsonaro repetiu o gesto de descortesia e falta de republicanismo que João Figueiredo, o último dos generais-ditadores, havia feito em 1985: recusou-se a repassar a faixa presidencial a José Sarney e saiu pelas portas dos fundos do Palácio do Alvorada.
Mas o ato de desrespeito à liturgia do cargo praticado pelo ex-presidente Bolsonaro contribuiu para abrilhantar ainda mais a festa da posse do presidente Lula. Na ausência do mandatário fujão, Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto acompanhado de vários representantes da sociedade brasileira, além de uma cadelinha de nome Resistência.
Por fim, Lula recebeu a faixa das mãos de Aline Sousa. Mulher, negra, mãe de 7 filhos, Aline é catadora desde os 14 anos. Sua avô e sua mãe também foram catadoras. Pela primeira vez na história do país, uma mulher consagrou o presidente na cerimônia de posse.
Foi melhor assim. As mãos calejadas de Aline Sousa dignificaram a faixa presidencial. Caso tivesse participado da transmissão do cargo, as mãos de Bolsonaro a teriam maculado em consequência dos diversos crimes que cometeu.