Peru: uma incógnita

A história do Peru é a síntese trágica da América Latina. Conquistada pelos espanhóis, a civilização inca foi destruída pela ambição desenfreada por ouro e prata. Por onde passaram, Francisco Pizarro e seus sequazes deixaram um terrível rastro de mortes, doenças e misérias.

Ao longo dos séculos, os nativos foram massacrados e explorados pelos hispânicos e seus herdeiros brancos. Hoje, os descendentes indígenas mantêm acesa a esperança de reconquistar sua dignidade.

No último domingo, o candidato esquerdista Pedro Castillo (Perú Libre) ganhou a eleição presidencial, derrotando a candidata de direita Keiko Fujimori (Fuerza Popular), filha e herdeira política do ex-ditador Alberto Fujimori. Seu pai, um populista de direita que deu um autogolpe em 1992, está preso pelos crimes de corrupção e assassinatos que cometeu durante os oito anos em que esteve no poder.

O Peru está envolto num caos político. Nos últimos 5 anos, teve 4 presidentes. Os partidos perderam totalmente a credibilidade. Durante o 1º turno da eleição, houve uma fragmentação de votos entre vários candidatos. Pedro Castillo obteve 19,09% e Keiko Fujimori 13,36%. A maioria dos peruanos não os queria no poder. No segundo turno, Castillo venceu Fujimori por apenas 60 mil votos. Sua vitória foi posta em dúvida por Keiko. Sua posse, uma incógnita.

O presidente eleito Pedro Castillo era um desconhecido professor do interior. Ganhou projeção política nacional em 2017, ao liderar uma greve de docentes que mobilizou a categoria por todo o país. Sua força eleitoral veio da zona rural e da região amazônica, onde se concentram a população mais pobre do país.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Informática (INEI), a pobreza disparou em 2020, atingindo 10 milhões de peruanos, um total de 30,1% da população. Os desafios são enormes. Castillo prometeu, durante a campanha, convocar uma Assembleia Constituinte, combater a corrupção, nacionalizar as minas de cobre e investir pesado na educação e na saúde.

Líder sindical, Pedro Castillo nunca exerceu um cargo executivo ou político que lhe garanta o mínimo de experiência para lidar com as raposas da política peruana, acostumados com as artimanhas e armadilhas do poder. Além disso, enfrentará oposição cerrada de Kiko Fujimori, habilidosa na arte de tramar contra seus adversários. E ela já começou.