TSE, fake news e marketing político — o que esperar de 2022

Se o uso das fake news como ‘estratégia’ de comunicação sempre foi duvidoso do ponto de vista ético, agora a prática virou caso de justiça. A cassação do deputado estadual Fernando Francischini (PSL- PR) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com certeza vai ligar a anteninha de políticos e profissionais de marketing, pelo menos daqueles coniventes com esse tipo de crime.
A decisão sinaliza que a maneira como a Justiça Eleitoral vai lidar com o problema será bem diferente do que aconteceu em 2018. Quem insistir em espalhar mentiras e desinformação em busca de votos ou construção de uma presença digital pode não sair impunemente nas eleições de 2022. Principalmente no que depender do próximo presidente do TSE, Alexandre de Moraes. O ministro deixou bem claro em um recado ao presidente Jair Bolsonaro, que se houver disparo em massa de fake news nas eleições de 2022, os responsáveis serão cassados e “irão para a cadeia por atentar contra as eleições e a democracia”.

E por falar em Bolsonaro, um dos principais adeptos e produtor deste tipo de conteúdo, ele praticamente foi eleito por sua capacidade quase industrial de divulgar notícias falsas e deturpação de fatos. Prática institucionalizada em sua gestão, segundo denúncia de uma ex-aliada, a deputada Joice Hasselman na CPMI das Fake News. De acordo com ela, existe um ‘Gabinete do ódio” em funcionamento no Palácio do Planalto, formado por três servidores ligados ao vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC), filho “02” do presidente que produzem relatórios diários, com suas interpretações, sobre fatos do Brasil e do mundo, e são responsáveis pelas redes sociais da Presidência da República. Apesar de fazer uso de termos bíblicos a exemplo de ‘conhecereis a verdade e a verdade os libertará’, Bolsonaro compartilhou durante uma live o absurdo que a vacina contra a Covid – 19 poderia provocar AIDS. Na ocasião, a mentira deliberada para justificar sua ideologia e leitura de mundo invertida foi retirada do ar pelas próprias plataformas Facebook e YouTube. O curioso é que a decisão que cassou Franceschini é baseada na transmissão de uma live no dia das eleições passadas, quando ele divulgou notícias falsas sobre supostas fraudes no uso da urna eletrônica de votação.

Esse cenário de combate às disseminação das fake news vai exigir uma maior cautela na construção das narrativas das equipes de comunicação e articulação dos candidatos e candidatas na luta por um cargo político. Considerando o nível previsto de polarização do pleito no ano que vem, isso é bastante positivo e vai exigir do marketing político um elemento que estava sendo ofuscado diante das redes de desinformação adotadas por muitas lideranças políticas: a criatividade. Vamos esperar para ver quem conseguirá se eleger sem mentiras. Abrindo mão delas, pelo menos nas estratégias para a internet. De toda forma, a postura da Justiça Eleitoral brasileira já pode ser considerada um avanço. Trabalho não vai faltar pela frente.