Opinião

Pesquisa eleitoral: o que ela diz?

Uma pesquisa eleitoral é como um retrato, mas não um retrato fiel do cenário político. Os números são flutuantes, portanto, apenas um recorte do momento. Em uma campanha eleitoral é preciso ter em mente que o desenho pode mudar rápido, num intervalo de dias. Mas pesquisas funcionam mesmo como uma espécie de termômetro e podem indicar caminhos para todos os agentes do processo eleitoral – passivos e ativos – ou seja, os que votam e os que vão ser votados.

A primeira pesquisa IBOPE divulgada em João Pessoa pela TV Cabo Branco mostra um empate técnico entre duas forças políticas tradicionais da cidade e dois outsiders com 18%, 15%, 12% e 10% das intenções de voto do eleitor respectivamente. São eles: Cícero Lucena (PP) que tem melhor vantagem, Nilvan Ferreira (MDB), Ricardo Coutinho (PSB) e Wallber Virgolino (Patriota).

Não há muita surpresa nesse retrato. Cícero tem know-how. Apesar de ser a cara de uma elite política que tem encontrado resistência nas urnas, conseguiu uma aliança forte, sobretudo porque conta com a benção do Cidadania, do governador João Azevedo. É certo que máquina não ganha eleição. Nem pesquisa. Mas um apoio desses faz diferença em qualquer disputa. O desafio é não desidratar.

Nilvan está em um partido tradicional que tem sofrido importantes perdas nas eleições, mas ainda assim tem peso – político e financeiro. E Nilvan é comunicador, popular, incorporou um discurso populista para disputar votos bolsonaristas. Além disso começou a fazer campanha há mais de um ano. Era de se esperar que fosse lembrado nas pesquisas e que pontuasse bem. Estranho seria se não fosse.

Ricardo mostra que, mesmo sem máquina nas mãos e com uma Calvário nas costas, é ainda forte liderança política capaz de embaçar o jogo dos adversários. Aparece em terceiro na pesquisa e, sem sombra de dúvidas, é um forte candidato com cabedal para puxar a disputa dentro do campo progressista. A rejeição pode ser um problema. Já falo sobre isso.

Wallber Virgulino pode parecer – para alguns – a zebra da competição, mas não é. Ele tem se destacado pela polarização do debate e investido em um discurso que faz bastante sucesso entre eleitores mais ressentidos que buscam por soluções imediatas para problemas complexos. É um discurso muito comum entre os populistas: o combate à corrupção, à política velha – ao chamado establishment. É o discurso bolsonarista na veia. Chegou no teto? Pode ser. Há quem diga que sim. Há quem aposte que ele tem fôlego para crescer e o cenário polarizado ajuda. Outro fator pode contar a favor dele: uma rejeição relativamente baixa, de 13%. Praticamente empatado com Nilvan: 16%.

Voltando a Ricardo… Há uma desproporção gritante entre intenções de voto e rejeição ao socialista. 43% dos eleitores entrevistados disseram que não votariam nele de jeito nenhum. No primeiro turno isso por não pesar tanto, principalmente em um cenário tão pulverizado. Mas se Ricardo conseguir chegar em um segundo turno, essa rejeição é fatal. Cícero Lucena também tem rejeição alta: 30%. É motivo de preocupação, sim. Ambos terão que trabalhar muito para reverter esse quadro. Terão tempo?

Eis a questão. A campanha – que já está nas ruas – vai ganhar outro contorno com o ínicio da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, a partir de sexta-feira, dia 9. É quando os eleitores vão conhecer, de fato, os candidatos, suas propostas, desempenho. O clima muda e isso influencia o jogo e as pesquisas eleitorais. Faltam mais de 30 dias para o pleito, e até lá, muita coisa pode mudar. Dentro do núcleo bolsonarista, por exemplo, há vários disputando a preferência do eleitor. Inclua-se aí, além dos já citados, João Almeida (SD) com 1% das intenções de voto segundo a pesquisa, mas com baixa rejeição: 10%; Raoni Mendes (DEM) preferido por 2% dos eleitores e rejeitado por 9%; e Ruy Carneiro (PSDB), com 7% segundo a pesquisa, mas com rejeição que bate os 18%. Sim, todos eles, repito, vão tentar ganhar votos dentro da direita e da extrema-direita. Uma seleção natural vai acontecer no meio do caminho.

Aqui vale chamar atenção para as candidaturas do PT e do PV. Anísio Maia e Edilma Freire empatam quando o assunto é rejeição: 11% cada um. Nas intenções de voto, o petista tem apenas 1%; a professora, indicada pelo atual prefeito, 5%. Pouco. Muito pouco, na verdade. Se a pesquisa estiver sendo fiel ao cenário, Edilma está a 13 pontos do primeiro colocado. Amarga um quinto lugar na pesquisa. E é preciso lembrar:  transferência de voto tem limite, até mesmo o voto da máquina. Edilma pode crescer? Claro. Com a campanha em curso, ela pode ganhar competitividade. Lembre-se: historicamente, o IBOPE tem errado a mão na leitura de cenários por aqui. O crescimento vai ser suficiente para ganhar a eleição. A preço de hoje, difícil. Quanto ao Anísio, é provável que apresente um desempenho melhor em próximas pesquisas. O PT, sozinho, tem voto porque tem militância, porque tem Lula. Mas desse mato não há de se esperar algo surpreendente. Esta também não é uma candidatura competitiva,  e por vários motivos. Entre eles: o desgaste interno do PT e a criminalização do partido.

Até agora os votos brancos e nulos saem ganhando. Juntos, somam 20% das intenções do eleitor pessoense. Claro que esses números podem mudar à medida que o tempo avançar e nos aproximarmos do primeiro turno das eleições, em 15 de novembro. Mas esse é um sintoma importante que não pode ser desprezado. O eleitor está dizendo que não se sente representado pelo que está posto. É sinal de crise. Os candidatos precisam compreender o que está sendo dito e precisam tentar se conectar com esses eleitores. Isso é fundamental. Se a relação é refratária, a participação diminui e a democracia é que perde nessa história.