Opinião

Mobilidade urbana de João Pessoa: há um Largo no caminho de Tambaú e ele pode desaparecer

Por Rejane Negreiros

Recém entregue pela gestão Luciano Cartaxo, o Largo de Tambaú pode estar com os dias contados. O novo superintendente de mobilidade urbana de João Pessoa, George Morais, anunciou que estuda a possibilidade de acabar com o espaço para dar maior fluidez ao trânsito no local. Seria a devolução do acesso à beira-mar pela avenida aos motoristas e motociclistas.

Pouco tempo atrás, toda a área de 8.621 m² que vai da avenida Epitácio Pessoa ao Busto de Tamandaré, foi completamente fechada e transformada em um grande espaço de convivência para pedestres.  Esse, contudo, não era o primeiro desenho do Largo, de acordo com Morais: ”o próprio projeto original previa o acesso, a circulação em baixíssima velocidade de alguns veículos, devidamente sinalizados”.

O superintendente da Semob diz que o assunto vai ser discutido: “é um espaço de convivência saudável, que a população reconhece, mas que traz efeitos colaterais para o trânsito e através da nossa inteligência, planejamento e engenharia, traremos para o debate essa possibilidade”.

O problema é que o projeto desenvolvido pela Semob e executado pela Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) custou R$ 2,7 milhões de reais. Se a atual gestão decidir acabar com o Largo de Tambaú, vai jogar todo o investimento na lata do lixo. Não parece uma discussão razoável tampouco eficaz. Representa desperdício de dinheiro público e uma afronta ao princípio da economicidade.

Guardando-se as devidas reservas à construção do Largo, vez que não houve qualquer debate sobre a necessidade do equipamento, fato é que a obra foi feita, custou caro, está regular, tem apelo turístico e acabou tendo boa aceitação popular depois de pronta. É verdade que a mobilidade de João Pessoa precisa avançar em diversos aspectos e que algumas modificações da gestão anterior só pioraram certos gargalos, mas a solução pede planejamento robusto e engenharia. Pede também eficiência que passa longe da ideia de quebrar o que foi feito a pretexto de dar fluidez ao trânsito no trecho interditado.

Especialistas em mobilidade urbana apontam que investir em tecnologia é a grande sacada para reduzir o caos no trânsito e torná-lo mais fluido. Se vale para grandes centros urbanos, por que não se aplicaria a João Pessoa que já apresenta uma frota considerável, com mais de 388 mil veículos (Dados de 2018, IBGE)? Em oito anos, de acordo com o Detran, o número de motocicletas na capital cresceu 74,4%; o de carros, 66%.

Levantamento de uma empresa de gerenciamento de tráfego norte-americana identificou algumas medidas que podem contribuir sensivelmente para aliviar congestionamentos. Entre elas, a melhoria do sistema de transporte coletivo de passageiros e criação de faixas de trânsito rápido de ônibus, o chamado BRT. Não é algo que se faça da noite pro dia, mas é projeto obrigatório de uma cidade que pensa o futuro e que se pretende inteligente.

E já que estamos falando de um trânsito menos duro e, consequentemente menos estressante e violento, é preciso lembrar que mobilidade envolve pessoas e não só veículos. Trabalhar pela humanização da cidade é urgente e isso inclui os pedestres. Inclui ainda a construção de passarelas em corredores urbanos. Embora sejam feitas para carros, para otimizar o trânsito dando a este mais celeridade, ajudam a reduzir atropelamentos e a proteger vidas. É uma via mão-dupla, com o perdão do trocadilho.

Então, se há alternativas inteligentes para o trânsito da capital paraibana, por que abrir mão de uma obra que tem cumprido seu papel antes de testar outras possibilidades? Além de uma visão patrimonialista de gestão trânsito (que não cabe na coisa pública), parece um atropelo sem medida. E sem qualquer razão de ser.