Opinião

Em mais uma manobra, Câmara Federal tenta mudar as regras do jogo eleitoral

Se há uma coisa certa nas alianças partidárias é que o tempo delas tem o tempo das coisas fluidas. Efêmeras. Efêmero. Há poesia nisso até: “intenso enquanto dura”. Os inúmeros tratados desfeitos no calor das eleições dão conta dessa liquidez. Não é culpa do caráter subjetivo das relações humanas. A questão é objetiva, puramente pragmática. Sem paixão. Peças que se juntam para buscar alguma solidez.  A competitividade, o instinto de sobrevivência, o desejo de ampliação ou manutenção de poder levam a isso. Pode ser questionável, mas não é crime.

As últimas eleições, na Paraíba ou fora dela, produziram alianças improváveis. O espectro ideológico acabou embotado pelo pragmatismo. Nenhuma novidade. O fim das coligações previsto para 2022 seria um remédio para isso. A ideia: reduzir o número de legendas de aluguel para minorar a fragmentação partidária e criar condições para governabilidade em um sistema de coalizão. O problema é que a regra aprovada lá atrás, em 2017, pode mudar e pra pior. O Congresso trabalha pra isso. A nova proposta, o “distritão puro”, é excludente, favorece o personalismo e fortalece o caciquismo. Para os donos de partido, um baita negócio. Para o eleitor, uma cilada. Sem falar na instabilidade gerada a cada eleição.

Deputados também querem resgatar as coligações e liberar as alianças. Se conseguirem aprovar estarão sendo fiadores de um grande retrocesso. Dizem que a história não perdoa, mas ensina. Não pra todo mundo. Quando a memória é curta, quando a história é questionada a ponto de ser posta à prova pelos amantes do negacionismo e do revisionismo, o aprendizado não fica. O momento em que o país vive hoje é resultado dessa memória curta. Na noite desta quarta-feira (11), a Câmara Federal vai votar o distritão. Não há crime previsto para quem legisla em causa própria às custas do bem de uma nação, mas a arapuca que criam terá custos e trará sérios danos ao país. Estes custos não são efêmeros, nem poéticos e têm um objetivo: os caciques se blindam, sobrevivem e, de quebra, comprometem participação popular.