Opinião

Machismo na telinha é espelho da sociedade

“Não se trata de representatividade. É um jogo”.

O comentário acima vem sendo reproduzido por um número sem fim de pessoas para justificar o resultado de mais um paredão no Big Brother Brasil. Calma! Esta coluna não é exatamente sobre o BBB, mas sobre nossas mazelas históricas, em especial, o machismo decorrente de complexo processo cultural, político e econômico a qual fomos submetidos.

O jogo espelha a vida fora das telas e reflete a imagem de quem olha pra ele. Mais até eu diria! O BBB é um simulacro do real. O confinamento só acentua tendências e punções de todo o tipo. O que se vê pelas lentes é dose homeopática do que nos assombra todos os dias, aqui fora: preconceitos, perseguição, homofobia, intolerância e (voilá!), o machismo. A eliminação de mulheres, sejam cis ou trans (para citar a edição 22), indicadas também por mulheres, é a exata medida da misoginia que molda o comportamento social, transferida de geração em geração por séculos.

É claro que dentro do jogo há uma questão de sobrevivência. Fora também! No jogo da vida há provas de resistência diárias. Mulheres, cis ou trans, negras, brancas, amarelas, abastadas ou vulneráveis economicamente, lutam pra sobreviver todos os dias; muitas são mortas todos os dias. São silenciadas, censuradas, expostas. São ridicularizadas também por mulheres, que, conscientemente ou não, perpetuam um ciclo perverso de dominação e continuação do patriarcado.

Viram a cara, entortam a boca para a menina “desequilibrada”, para a jovem pragmática, para a travesti “inconveniente”. O BBB é o retrato nosso de cada dia, das nossas limitações morais e da herança de um passado – eternamente presente – de subjugação. Replicamos. Só replicamos padrões. Uns porque dormentes; outros, coniventes,

Restam seis homens no jogo. Não importa quem sejam. Esse não é o ponto. Importa que, em um país majoritariamente feminino, nenhuma mulher estará na final. Acham normal porque o machismo foi e é naturalizado. O BBB nos mostra despidos. Não no fundo, no fundo, mas na superfície de nossas misérias. Somos um país (de homens e mulheres) machista, e e não há espaço para todas, será, sim, uma questão de representatividade.