Em live de despedida, Bolsonaro critica atos terroristas e é criticado por apoiadores
BRASÍLIA – Na véspera do fim do seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo nesta sexta-feira (30), em que afirmou que “nada justifica” o ato terrorista em Brasília, quando um homem plantou um explosivo em um caminhão de combustível perto do aeroporto da capital federal com o objetivo de causar pânico e motivar uma intervenção militar no País.
Há se registrar que as manifestações e atos terroristas promovidos por apoiadores de Bolsonaro desde a derrota dele nas urnas jamais foram desencorajados pelo presidente que deixa o Brasil com destino aos Estados Unidos sem passar a faixa presidencial para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No último sábado (24), um gerente de posto de combustível do Pará foi preso e confessou ter armado um artefato, alegando que queria “provocar o caos” em protesto contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. George Washington de Oliveira Sousa, de 54 anos, é apoiador de Jair Bolsonaro e tem conexões com outros bolsonaristas que acampam em frente ao Quartel General do Exército com apelos golpistas contra a eleição de Lula.
Ao longo da live, o presidente acenou durante a seus apoiadores que estão na porta de quarteis e afirmou que “está prevista a posse dia 1º de janeiro” e que buscou “dentro das leis saída para isso aí”, mas não encontrou apoio. “Como foi difícil ficar dois meses calado, trabalhando para buscar alternativas”, afirmou.
O presidente não fez nenhum agradecimento aos ministros de seu governo, citou apenas a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ele estava sozinho, acompanhado apenas da tradutora de libras, sem nenhum ministro. Segundo Bolsonaro, cerca de 840 mil pessoas assistiram sua transmissão ao vivo, por meio de três redes sociais.
Comparação
O presidente reforçou o discurso de medo para seus apoiadores em relação ao governo de esquerda de Lula. “Hoje, temos uma massa de pessoas que passaram a entender melhor de política. As pessoas acharam que não corriam risco, mas correm risco”, disse.
Ele também pediu que comparem seu ministério com os escolhidos pelo “opositor”, além dos chefes de Estado convidados para a posse do Lula, citando Daniel Ortega (Nicarágua) e Nicolás Maduro (Venezuela), e para a sua posse em 2019. Em 2019, na posse de Bolsonaro, estiveram presentes os primeiros-ministros de Israel, Benjamin Netanyahu, e da Hungria, Viktor Orbán, ambos da extrema-direita, ideologicamente alinhados a ele.
Bolsonaro ainda disse que a gestão de Lula “começa capenga, já com muitas reações”, avaliando as medidas iniciais da futura gestão como uma “gastança enorme, fura-teto”. No governo Bolsonaro, porém, o teto de gastos foi “furado” seis vezes, sendo a última por causa da PEC da Transição, para bancar as promessas de Lula.
Derrota
No seu último discurso, o presidente demonstrou que não assimilou a derrota e sinalizou para seu eleitorado que vai tentar voltar ao Poder. “Tenho certeza que não vai demorar muito tempo. Temos um grande futuro pela frente. Perde-se batalha, mas não a guerra. Muito obrigado a todos por terem me proporcionado quatro anos a frente da Presidência da República”, disse com a voz embargada.
Reação de apoiadores
Conforme o pronunciamento foi sendo feito e Bolsonaro não agiu conforme alguns apoiadores esperavam, os comentários mostraram a decepção dos bolsonaristas. “Se nada for feito, acabou”, afirmou uma seguidora.
“Nada vai fazer”, questionou outro.
“Queremos ação”, escreveu mais um.
“Eu vou ter ir pro hospital, estou mal!!! Meu Deus!!!”, afirmou uma internauta.
Em meio aos decepcionados, houve quem agradecesse a Bolsonaro e quem visse uma suposta mensagem dele nas entrelinhas. O presidente disse aos apoiadores que “o Brasil não vai se acabar no dia 1º”, data da posse de Lula.
“Olha a fala subliminar, o Brasil não vai acabar em janeiro”, escreveu um apoiador, sem se aprofundar.
Próximo ao fim da transmissão, Bolsonaro quis saber como estavam os comentários nas redes sociais. “Não precisa me falar, não. Dá um positivo ou negativo”, pediu. As imagens não mostraram a resposta do assessor do presidente, que emendou outro assunto em seguida.
Após o fim do pronunciamento, a deputada estadual eleita em Santa Catarina, Ana Campagnolo (PL), deixou uma reclamação escrita no perfil de Bolsonaro. A aliada do presidente foi a parlamentar mais votada do Estado, com 196.571 votos. “Faltou ser claro num ponto. Tinha que dizer com todas as letras que o Exército está contra o povo”, escreveu a deputada.
Com informações do Estadão