Opinião

Deixar de marcar posição é ou não uma boa estratégia para o PT paraibano?

“O PT passou da época de disputar eleição para marcar posição”. A declaração é do presidente do PT da Paraíba, Jackson Macêdo, em entrevista a este blog que pode ser conferida aqui. Macêdo se referia às eleições municipais de 2024 em João Pessoa. No jargão da disputa política, marcar posição é quando um partido ou um candidato mantém sua candidatura mesmo sabendo que não tem muitas chances de vencer o pleito, mas faz debate de ideias e apresenta projetos. A decisão de marcar posição faz com que posições minoritárias possam se sentir representadas. Além disso, o debate público ganha novos pontos de vista e, a partir desse movimento, pode acontecer o chamado acúmulo de forças.

Sem dúvida alguma Jackson Macêdo contribui com o debate ao levantar questões do tipo e fortalece a política ao defender com transparência suas ideias, mas é preciso dizer que foi justamente o acúmulo de forças que beneficiou o próprio PT em nível nacional. Na eleição presidencial de 1989, Lula foi para o segundo turno ao ultrapassar Brizola por uma margem inferior a 1%. Era uma candidatura mais radicalizada que, para a maioria das pessoas, servia apenas para marcar posição. Já durante toda a década de 1990, o PT consolidou o papel de principal opositor ao projeto neoliberal marcando posição. Lula foi candidato em 1994 e 1998, mesmo diante do sucesso do Plano Real que fez Fernando Henrique Cardoso (FHC) vitorioso na eleição e na reeleição já em primeiro turno.

Sem o acúmulo de forças de 1989 e o “marcar posição” dos anos 1990, o PT não teria chegado em 2002, com o neoliberalismo em crise e o governo FHC com dificuldades em fazer seu sucessor, como uma alternativa real de governo. Então, muito mais que a aliança moderada de 2002, a disposição de disputa de 1989 e a decisão de marcar posição nos anos 1990  foram responsáveis pela projeção do PT como o principal partido de esquerda de toda América Latina. Donde se tira que política não é uma atividade de curto prazo. Aliás, o próprio PT faz questão de lembrar que a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 foi resultado de uma série de fatores anteriores, como a operação Lava Jato, derrubada da presidente Dilma Rousseff, reformas neoliberais durante o governo Temer e prisão do Lula.

Será a posição de Jackson Macedo majoritária no PT? Se for, teremos aí um fator relevante, e não apenas por se tratar do partido que governa o pais. Aliás, se o antipetismo foi um dos elementos mais mobilizadores nas últimas eleições, resta evidente que é o petismo um dos fatores definidores da política nacional. Sendo o PT o maior partido de esquerda do país, se sua eventual ausência não for preenchida por outro partido deste campo, falo do campo progressista, na Paraíba seu enfraquecimento pode indicar um fenômeno mais complexo: o retrocesso a períodos anteriores nos quais as disputas se davam entre grupos das elites tradicionais. Se há 20 anos essas disputas se davam entre os grupos Cunha Lima (PSDB) e Maranhão (PMDB), já foi no passado entre Arena e MDB, durante a ditadura, e entre perrepistas e liberais, um século atrás.

Cabe perguntar por que mesmo depois das sucessivas vitórias do partido na Paraíba nas eleições presidenciais em 2002, 2006, 2010, 2014, 2018 e em 2022, quando Lula alcançou robustos 66,62%, o PT no estado não apenas não vem crescendo, como vem diminuindo de tamanho. As multidões que promoveram atos espontâneos nas campanhas presidenciais pelo Nordeste em 2022, os chamados piseiros, ao mesmo tempo que expressam um forte petismo em alguns segmentos da sociedade, não tinham nenhuma relação com a estrutura partidária. O fato é que os números de duas décadas mostram que, em nome de uma estratégia meramente eleitoral e institucional, o partido vem perdendo relevância eleitoral e institucional.

O PT já chegou a ter cinco prefeituras na Paraíba hoje tem apenas uma. Já chegou a eleger quatro deputados estaduais, hoje elegeu apenas dois e ambos petistas com ressalvas: Luciano Cartaxo, que deixou o partido em 2015 na onda conservadora buscando espaço na direita, e Cida Ramos, mais leal ao grupo do ex-governador Ricardo Coutinho que necessariamente ao partido no qual hoje está. Além disso, desde 1998, o PT paraibano elege apenas uma cadeira na Câmara dos Deputados. Na capital, o partido tem apenas um vereador, Marcos Henriques, e é nítido que a legenda ainda se recuperou de duas despedidas: a de Ricardo, em 2003, e a do próprio Cartaxo.

Além de João Pessoa, outra importante cidade do estado deveria servir de aviso para o PT paraibano no que diz respeito à estratégia de não marcar posição. Em 1998, a então vereadora Cozete Barbosa foi a candidata ao Senado pelo partido e obteve robustos 19,75% dos votos. Liderança emergente, apenas dois anos depois, Cozete e o PT campinense não quiseram marcar posição e escolheram um atalho, firmando aliança com Cássio Cunha Lima, então no PMDB. Cozete exerceu o governo da cidade por quase dois anos, quando Cássio se elegeu governador em 2002, mas desde então o partido na cidade apenas definhou, sem formar novas lideranças e perdendo capacidade de influenciar na política local. Em 2012, indicou Peron Japiassu na vice de Daniella Ribeiro, do Progressistas (PP).

Em nome de um projeto nacional e da renovação de alguns poucos mandatos parlamentares, o PT paraibano, ao que parece, se desacostumou a disputar eleições. Isso não é bom. Time que não joga, não tem torcida e pode até cair para a segunda divisão. E afinal, o que significa não marcar posição? Tentar ocupar alguns espaços na condição de partido de Lula? Estará o partido condenado a ser coadjuvante nos palanques de outras legendas? Como o lulismo poderia fortalecer o petismo e como esse petismo pode fortalecer o PT como uma alternativa política no estado? A questão de ordem para Jackson e os demais dirigentes do PT paraibano é um verdadeiro “decifra-me ou te devoro”.