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Secretário do Recife denuncia ter sofrido racismo durante evento da FNP em JP

O secretário de Governo e Participação Social do Recife, Aldemar Santos, denunciou ter sido vítima de racismo em um evento da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que aconteceu na sexta (2), em João Pessoa. O gestor público relatou que uma recepcionista não acreditou que ele fosse um secretário municipal e perguntou se era segurança.

Nas redes sociais, Aldemar Santos disse que, antes de ser admitido pela recepção do evento, recebeu dois crachás errados. “A recepcionista questionou-me se eu era segurança. Já com bastante indignação, perguntei a ela o que a faria crer que eu seria segurança”, afirmou.

Ao chegar ao local do evento, o secretário se identificou e recebeu um crachá de empresário de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife.

Aldemar Santos reclamou e, em seguida, recebeu uma identificação de subsecretário de Jaboatão. Novamente, ele corrigiu o cargo e a cidade de onde vinha.

 

Segundo o secretário, passaram-se mais de 30 minutos, e as outras pessoas receberam os cadastros corretos. “Por mais uma vez, expliquei que estava havendo um engano e que eu era e sou secretário de Recife, desta vez com mais ênfase e já com algum aborrecimento”, disse.

Foi nesse momento que a recepcionista do evento perguntou se ele era segurança, ainda de acordo com o secretário.

“Perguntei qual o motivo que a faria acreditar que, após mais de meia-hora eu me apresentando como secretário do Recife, eu estaria mentindo e me ‘passando por secretário’ sem ser. Foi quando eu falei, usando um português claro, em alto e bom som, que o fato que a autorizava a achar que eu era segurança me fazendo passar por secretário era a minha cor negra, que eu estava sendo vítima de racismo”, afirmou Aldemar Santos.

Após ter apontado racismo na atitude da recepcionista, uma chefe da funcionária se apresentou e disse a Aldemar Santos que as duas pessoas que entraram no evento antes dele seriam seguranças e que isso causou a confusão.

“Depois me disseram que a prefeitura do Recife teria enviado meus dados como sendo segurança de Jaboatão, fato que não é nada crível e beira o impossível”, declarou Aldemar Santos.

O secretário também afirmou que casos como esse são comuns e que vai registrar um boletim de ocorrência para que a Polícia Civil investigue o ocorrido.

“Isso acontece quase todos os dias. Comigo, com meus irmãos e irmãs de cor, e eu não posso me calar. Hoje ocupo um cargo com relativa visibilidade e que me dá um local de fala que não me permite silenciar. Não me insurjo aqui contra o fato de ser confundido com um segurança, que em nada me desabona, mas sim contra o fato das pessoas não acreditarem na possibilidade de um negro estar em algum lugar ou condição que elas acham que é possível.”

Repercussão

Sobre esse caso, a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) pediu desculpas pela “lamentável situação de racismo vivenciada no credenciamento” e disse não compactuar com nenhum tipo de discriminação. Também afirmou que os prestadores de serviço foram dispensados antes do final das atividades.

“Tão logo soubemos do ocorrido, que tem nosso total repúdio, tanto da diretoria quanto do corpo técnico da FNP, desligamos a empresa de recepcionistas contratadas para apoiar a realização do evento, o que não afasta nossa responsabilidade”, declarou.

Também lamentou que “uma situação de racismo” tenha ocorrido “dentro de um evento que prima pelo debate democrático de alto nível, com respeito a todas as formas de diversidade”.

“A FNP se compromete de rever os procedimentos para contratação de prestadores de serviço, assim como já tem com o corpo funcional”, afirmou.

Nas redes sociais, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), prestou solidariedade a Aldemar Santos e disse que conversou com o presidente da frente, Edvaldo Nogueira (PDT), que é prefeito de Aracaju .

“Conversei com o presidente da Frente, Edvaldo Nogueira, que também se solidarizou, repudiou a atitude e afirmou que as devidas responsabilidades serão cobradas. Gestos assim são inaceitáveis e não representam a trajetória da instituição. Qualquer reflexão sobre o futuro das cidades passa pelo enfrentamento a todas as formas de preconceito. Racismo é crime”, declarou João Campos.