Opinião

“A Cara da Democracia”: pesquisa indica que brasileiros sabem quem planejou o 8/1

A nova edição da pesquisa “A Cara da Democracia”, divulgada pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT) nesta terça-feira (12), traz à tona uma visão clara da percepção da maioria dos brasileiros em relação aos ataques golpistas ocorridos em 8 de janeiro. Os resultados lançam luz sobre a complexidade política do país, onde as divisões ideológicas continuam a alimentar tensões profundas.

A esmagadora maioria dos brasileiros, oito em cada dez, desaprova veementemente os atos antidemocráticos ocorridos naquela dia, quando militantes bolsonaristas e da ultradireita invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes. Este repúdio expresso pela população brasileira reflete o desejo da estabilidade e o apreço pela democracia.

O ponto mais intrigante da pesquisa, que ouviu 2.558 eleitores de 167 cidades entre 22 e 29 de agosto, é a atribuição de responsabilidade pelos atos golpistas. Cerca de 43% da população aponta Jair Bolsonaro ou grupos extremistas de direita como os principais responsáveis, indicando que uma parcela substancial da população associa diretamente o ex-presidente e sua retórica incendiária aos ataques antidemocráticos. Mesmo que Bolsonaro tenha negado qualquer envolvimento na liderança do golpe, a pesquisa revela que um quarto dos entrevistados o considera o principal responsável.

A pesquisa mostra ainda que 17% dos entrevistados não identificam ou associam os ataques antidemocráticos a grupos radicais de direita, e revela um apoio marginal aos atos golpistas por parte de 11% da população, um número que se assemelha à base de apoio do ex-presidente Bolsonaro. Isso sugere a existência de um segmento da sociedade que, embora não apoie explicitamente o golpe, também não o condena com a mesma veemência que a maioria, o que levanta sérias questões sobre a radicalização política no Brasil alimentada pela ascensão da extrema-direita ou do bolsonarismo.

Importa observar que 8% dos entrevistados mencionam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como responsável pelos ataques, o que indica um descolamento da realidade por parte dos que alimentam tal teoria. Os militares também são mencionados por 6% dos entrevistados, apontando para uma diversidade e, mais que isso, para a confusão e a complexidade das percepções da população em relação aos eventos de janeiro.

Os números retratam o imenso desafio do país em romper com seu passado autoritário, mas também tornam evidente a percepção do brasileiro quanto ao de janeiro. Compreender que os atos golpistas foram estimulados e quem esteve por trás de seu planejamento, exercendo, portanto, papel fundamental na concretização dos ataques é um avanço crucial para o país e para o fortalecimento da Democracia.

O oito de janeiro foi resultado do ódio produzido, destilhado e compartilhado por Jair Bolsonaro e os seus; o modus operandi da organização criminosa que atuou contra as sedes dos Três Poderes no 8 de janeiro, desde seu planejamento à execução por meio de uma milícia digital, não difere daquele do Gabinete do Ódio, inaugurado em Brasília pela família Bolsonaro “como estratégia fascista de corrosão democrática” (NEGREIROS, 2022) conforme demostraram as investigações da Polícia Federal, do Supremo Tribunal Federal e da CMPI das Fake News instalada no Congresso Nacional. Por hora, não parece haver clima para um novo levante, mas o ovo da serpente foi chocado e eclodiu. O bolsonarismo, embora enfraquecido, resiste. A vigilância deve ser permanente.

(Crédito foto: Valter Campanato/Agência Brasil)