A ação do BC contraria os interesses do Brasil
Começo desculpando-me pela ausência durante as últimas semanas. Embora não tenha escrito as Análises tentei acompanhar à distância as notícias sobre a economia do país, graças à internet. Estive no exterior por razões familiares. Acabando de chegar, integro-me totalmente às atividades e aqui estou de volta.
De fora pude observar o desgaste que o desastroso governo passado causou à imagem do país. Tive muita vergonha e dificuldade para explicar como foi possível a eleição de tal monstruosidade e como ele conseguiu manter-se no poder durante os quatro anos. Todos com quem conversei esperam agora, com ansiedade, que o novo presidente consiga conduzir o país de volta ao caminho da democracia e recupere o prestígio que já havia conquistado.
De volta ao batente e restabelecendo o contato com a dura realidade começo constatando a justeza de nossas análises anteriores, apesar da semana passada ter sido pobre de notícias. Afinal os analistas e jornalistas também gostam do carnaval. Apesar disto não se pode omitir alguns sintomas da crise que, como temos afirmado aqui, aproxima-se, apesar de todos os esforços eleitoreiros que resultaram em derrame de bilhões de reais na economia, na vã tentativa de ganhar as eleições. Na verdade, serviu apenas para adiar um pouco o avanço do fenômeno empurrando-o para depois do pleito. Mas, como sabemos, as medidas de política econômica não podem abolir as leis econômicas, mas apenas interferir na sua ação acelerando ou retardando seus efeitos. Agora temos o resultado.
Com efeito, o Boletim Macro da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), na sua edição de fevereiro, aponta que a atividade econômica vem desacelerando e a economia está perdendo o fôlego. O Boletim aponta como causas a política monetária restritiva do BC e a desaceleração global. Novamente vem a tona a questão dos juros, assunto que ocupou as atenções nas últimas semanas depois que o Banco Central (BC) manteve a Selic em 13,75%, taxa considerada a maior do mundo.
O Boletim Focus observa o arrefecimento da demanda, o aumento dos estoques e a falta de insumos. Os índices de confiança empresarial (ICE) e do consumidor (ICC) continuam em queda. As famílias reprimem o consumo diante do endividamento e insegurança e, sem a pressão da demanda, os empresários reduzem os investimentos e as contratações. As sondagens da FGV Ibre, sobre o mercado de trabalho, mostram que 41,3% da população maior de 14 anos admitia insegurança sobre o trabalho no final de 2022.
Confirmando estas preocupações o IBGE divulgou os dados para a economia, nesse ano. Segundo o instituto o Produto Interno Bruto (PIB) teve um crescimento real de 2,2%, com os serviços crescendo 4,2%, a Indústria apenas 1,6% e a agropecuária encolhendo -1,7%. A queda da indústria de transformação foi de -0,3%. Quando se observa a evolução ao longo dos trimestres a situação torna-se mais preocupante pois fica evidente a progressiva desaceleração da economia. No quarto trimestre do ano, o PIB decresceu -0,2% e a Indústria -0,3%. O PIB vinha caindo desde o começo do ano passando de 1,3% de crescimento, no primeiro trimestre, para 0,9% no segundo e 0,3% no terceiro. O quarto foi finalmente negativo, ou seja, a economia encolheu. Começamos o ano de 2023 com a economia em desaceleração contrariando todas as declarações do então sinistro da economia, o boquirroto Paulo Guedes, agora recolhido a sua insignificância e, certamente, fazendo render o milhões que ele surripiou utilizando-se de sua posição privilegiada de ministro.
Mesmo com este quadro de desaceleração e pessimismo o BC mantem-se irredutível com sua política de juros altos. Este é o remédio normalmente utilizado para uma inflação provocada por um excesso de demanda. O raciocínio é elementar: quando muita gente compra e a oferta não aumenta, os preços sobem. Eis a única teoria que o BC e seus economistas conhecem. Para estes diretores a única causa da inflação é o excesso de procura, ou seja, a inflação existe porque os consumidores estão comprando muito, comendo muito, viajando muito, usando muito os serviços etc. As autoridades monetárias rezam pela mesma bíblia que é a adotada nas escolas de economias. É uma questão de demência ideológica fanática. E vão continuar a assim proceder mesmo indo a economia para o brejo.
Mas, qual a importância da taxa Selic, sigla que significa Sistema Especial de Liquidação e Custódia, para a economia.? Ela é a taxa de juros que o tesouro está disposto a pagar como rendimento dos títulos públicos. Como estes títulos tem risco zero pois o estado não vai a falência, ela serve de limite inferior para todas as demais taxas de juros cobradas no país o que as empurra para além deste limite, elevando-as. A elevação dos juros encarece o dinheiro dificultando todos os empréstimos e financiamentos quer seja ao consumo, quer seja aos investimentos. Ora, quando isso ocorre em uma economia em desaceleração cria-se uma dificuldade adicional para o processo de recuperação. É isto o que estamos observando no presente momento e por esta razão a política do Banco Central é uma política suicida e boa razão tem o presidente ao criticá-la nos recentes pronunciamentos que fez e que tem provocado grande celeuma.
Entra então uma outra questão: a tal independência do Banco Central, assunto que trataremos na próxima Análise.