Nicarágua Libre?

Ninguém nasce ditador, torna-se ditador. Daniel Ortega, presidente há onze anos da Nicarágua, caminha célere para o rol dos líderes autoritários da América Latina. Ele transformou o processo revolucionário no seu país em uma escalada autoritária de consequências nefastas para os direitos humanos. Suas ações antidemocráticas foram condenadas na ONU, sem o voto do Brasil.

Em 1979 a Nicarágua espantou o mundo. O pequeno país encrustado na América Central, após anos de guerra civil, havia sido varrido por uma revolução que ansiava repetir o feito realizado 20 anos antes por Fidel Castro em Cuba: implantar o socialismo.

Até então a Nicarágua era dominada por uma sanguinária ditadura liderada por Anastácio Somoza, que herdara o poder de seu pai, também ditador. O regime autoritário nicaraguense só sobreviveu por décadas graças ao apoio incondicional dos Estados Unidos.

Os guerrilheiros que derrubaram Somoza formavam a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), integrada por diversos grupos opositores. Entre os líderes revolucionários estava Daniel Ortega, então um jovem idealista que desejava a libertação do país da ditadura e do jugo do imperialismo norte-americano.

Daniel Ortega foi presidente da Nicarágua entre 1979 e 1990. Voltou ao poder em 2006 e foi reeleito para a presidência em 2011, 2016 e 2021, desta vez com a sua esposa, Rosario Murillo, como vice-presidente. O casal presidencial tem se notabilizado por perseguir, prender e banir do país seus opositores.

A tentação totalitária é corrente entre líderes carismáticos, de direita e de esquerda. Os autoritários desejam perpetuar-se no poder. Daniel Ortega, que encantou a esquerda latino-americana na década de 1980, tornou-se uma caricatura de ditador. Com as perseguições, prisões e horrores do seu governo ele almeja, única e exclusivamente, manter-se no poder.