Autoritarismo na UFPB
1º de abril de 1964. Militares e civis de extrema direita deram um golpe de Estado no Brasil. Estabeleceram a censura, perseguiram, prenderam, torturaram e mataram centenas de jornalistas, intelectuais, trabalhadores, estudantes e professores que lutavam contra o regime autoritário.
Em março de 2023 completei 40 anos de UFPB. Ingressei em 1983 como aluno do curso de História, nos estertores da ditadura militar e início do retorno da democracia no país. Em 1991, passei a fazer parte do seu corpo docente. Nessas quatro décadas, a universidade cresceu em tamanho e influência.
Desde 1984, na onda de redemocratização do país, a UFPB tem escolhido os seus reitores com crescente participação da comunidade universitária.
Em 1992, com a eleição do professor Neroaldo Pontes para o cargo máximo da instituição, a UFPB passou a incorporar, democraticamente, as três categorias (técnico-administrativos, discentes e docentes) nas instâncias decisórias e administrativas. Sob a gestão de Neroaldo, a universidade alcançou a pluralidade e a diversidade, marcas da sua importância regional.
Tanto nos governos do PSDB quanto nas gestões PT, o candidato a reitor que obtinha mais votos na consulta eleitoral era o indicado pelo presidente da República. A vontade da maioria era respeitada, como deve ser em qualquer democracia.
Com Jair Bolsonaro no poder, o princípio democrático foi abandonado. Em 2020, o professor Valdiney Gouveia ficou em terceiro lugar na consulta para reitor, obtendo apenas 5% dos votos. Mesmo assim, foi empossado no cargo, num flagrante desrespeito à comunidade universitária.
No dia 22 de março, o Consuni (Conselho Universitário) aprovou, por unanimidade, um dossiê que aponta diversas irregularidades na atual gestão da UFPB. No próximo 16 de maio os três Concelhos Superiores (Consuni, Consepe e Conselho Curador) irão reunir-se para analisar o parecer favorável ao afastamento de Valdiney Gouveia do cargo.
O professor Valdiney está isolado. Não conta com apoio dos seus pares para continuar gerindo os destinos da universidade. Sua gestão caminha célere para tornar-se uma vergonha em termos de diálogo com os diversos setores acadêmicos. Mesmo que permaneça no cargo por alguma decisão jurídica, entrará para a história da UFPB como um triste capítulo de retrocesso autoritário.