Economia boa, mas Governo ruim
Segundo três pesquisas de opinião, recém-publicadas, a avaliação positiva do governo caiu e a negativa a subiu. A constatação tem provocado grandes debates. Discutem-se agora as razões que provocaram esta variação. São apontados como motivos: a badalada desvalorização da Petrobrás, mais o aumento dos preços dos alimentos, somando ainda o massacre de fake News nas redes sociais e da mídia, o fanatismo dos pentecostais (mal-e-feios e macedos da vida), os ataques dos bolsomínions e do congresso reacionário etc., entre outros possíveis motivos. Também são citados como motivos as declarações do presidente Lula sobre a Venezuela, sobre o massacre dos palestinos por Israel, em Gaza, e sobre a guerra da Ucrânia.
É estranho que isto ocorra ao mesmo tempo em que as notícias sobre a economia são mais positivas. Curiosamente, enquanto a avaliação positiva do ministro Hadad cresce, a do governo, do qual ele é ministro, cai.
Entre as causas apontadas, a falada perda de “valor de mercado” da Petrobrás continua ainda a provocar ataques de pelanca dos “investidores” na bolsa. Tudo é culpa do governo que está interferindo nas antigas estatais, que foram privatizadas e transformadas em S.A. (s), com maioria de ações nas mãos do Estado. No entanto, ninguém faz qualquer referência a todas as S.A (s) do país quando seus sócios controladores tomam as mais diferentes decisões. Todos sabem que o sócio controlador tem o direito de mandar na empresa. Isto só causa aflição quando é o Estado o sócio controlador. O estado deve gerir as estatais em função dos sócios minoritários, para lhes garantir o maior volume de dividendos possível. No momento, o descontentamento do “mercado” estende-se a outras empresas. Esta entidade mítica, o “mercado”, está nervosa. Comenta-se que, dos 403 conselheiros a serem indicados para empresas estatais de capital aberto e fechado, o governo deve indicar 320 nomes, ou seja, 79,4%. Que horror! Apenas 72 conselheiros são indicados por acionistas minoritários e preferenciais. Há 11 indicados por entidades e conselhos nacionais. Dos conselheiros atuais, alguns foram indicados ainda pelo governo Bolsonaro. Naqueles tempos ninguém protestou. Há cerca de 45 conselheiros indicados por ministérios de governos anteriores e que ainda continuam nos cargos. Ao tentar regularizar esta anomalia, o governo atual provoca agora o berreiro. Então, o acionista majoritário não pode indicar os seus dirigentes de confiança?
Além destas inquietantes notícias sobre um acionista majoritário que pretende tomar decisões sobre suas empresas, o que é normal na sociedade capitalista em que vivemos, na semana ocorreram outros fatos na economia. O PIB cresceu, e as estimativas das diferentes consultorias estão sendo revisadas para cima. O desemprego caiu, aumentou o emprego com carteiras assinadas, os salários elevaram-se, as vendas no varejo aumentaram, a arrecadação também aumentou, o mesmo ocorrendo com a renda e o consumo das famílias.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), em sua reunião da quarta feira, reduziu a taxa de referência Selic, de 11,25% para 10,75%, prometendo só mais um corte de 0,5%, para a próxima reunião. Esta foi a novidade no comunicado chamado de “forward guidance”, que sinaliza os passos futuros. O Copom manteve ainda sua previsão de inflação, para 2024, em 3,5%. Esta alteração nos termos do “guidance”, porém, também provocou várias reações de nervosismo na bolsa, com a desvalorização de ações e papeis de empresas brasileiras, pela suspeita de que o Copom pode encerrar mais cedo o ciclo de baixa da Selic.
Na contramão deste ruido, o Ministério da Fazenda, no Boletim Macrofiscal, publicado pela secretaria de Política Econômica, manteve sua estimativa de crescimento de 2,2%, do PIB, para este ano, apontando um viés de alta. Destacou ainda o aumento do crédito bancário e a redução da inadimplência, bem como a recuperação da produção manufatureira e da construção. O Boletim Focus apresentou a estimativa de 1,8%, para o crescimento do PIB, e destacou que muitas consultorias já estimam em 2% e mesmo 2,5%. As publicações utilizaram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), obtidos na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) e na Pesquisa Mensal dos Serviços (PMS). Estes dados indicaram que, entre dezembro e janeiro, houve um crescimento, para os setores, de 2,5% e 0,7%.
A economia, portanto, melhora, as pessoas vivem melhor, mas avaliam pior o governo. Estamos diante de um novo fenômeno a ser explicado. O ministro Haddad é bem avaliado, mas o governo Lula não, como se o ministro não pertencesse ao governo. Eis o resultado da guerra ideológica travada na internet, nas redes sociais e na mídia.
Este é o desafio que temos que enfrentar. Como derrubar o paredão das fake News e das redes sociais que não param de alimentar as bolhas ideológicas, manipuladas pela ignorância mais grotesca e pelo fanatismo religioso? Será que, nos tempos atuais, os fatores de ordem política e ideológica tornaram-se mais fortes do que os econômicos?
O agravante é que estamos às vésperas de uma eleição e urge mudar a composição do ambiente político no âmbito das prefeituras e câmaras de vereadores. Muito me preocupa os conchavos e entendimentos que não levam em consideração as mudanças na atual realidade. Perigosamente continua-se a agir como se estivéssemos nos tempos de antigamente, ao fazer alianças com base em relações pessoais e interesses locais ou familiares.
O momento é muito importante pois o que está em jogo é a própria democracia e a civilização.