Fatos que confirmam as previsões

Desculpem os leitores pela quantidade de dados que vamos citar aqui o que pode tornar nesta Análise pesada. Infelizmente é necessário para confirmar nossas previsões.

 Vamos começar pela situação internacional. Conforme temos falado, a recuperação que se esboçava tem sido prejudicada pela nova cepa da covid-19, a Ômicron. A Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que o pior já passou e a pandemia caminha para o fim. Na União Europeia (UE), apesar do aumento do contágio, os casos graves e internações diminuíram e muitos países estão relaxando as restrições, graças à vacinação em massa. Os movimentos anti-vacina, liderados pelas organizações de extrema direita, tem provocado problemas e os países têm apertado o cerco aos não vacinados. Nos EUA a situação é semelhante. A Ômicron também tem causado entraves e contribuído para a desaceleração, que já vinha sendo agravada pela inflação, pelos gargalos nas cadeias de suprimento e falta de mão de obra. Esta é a grande novidade. Há 3,6 milhões de trabalhadores a menos em dezembro de 2021 em relação a fevereiro de 2020. Um déficit de 2,3%. O Produto Interno Bruto (PIB) que havia se retraído -3,4% em 2020, cresceu 5,7% em 2021, mas deve cair em 2022.

A inflação provocou a reação do Federal Reserve (Fed.) banco central americano, que começou a encerrar os estímulos monetários (Quantitative Easing), e até março pretende concluir as compras dos papeis de hipotecas e do Tesouro, para então começar a elevar os juros acima de 2,5%. Eis uma grade preocupação para os mercados dos países emergentes. Quando o Fed. eleva as taxas de juros, como os títulos americanos têm confiabilidade máxima, e diante da insegurança geral existente hoje, os capitais fogem dos emergentes para suas origens, o que significa saída de dólares destes países. No nosso caso, o aumento da demanda de dólares pelos especuladores provoca uma elevação dos preços da moeda agravando a desvalorização do real. Será mais uma fonte para impulsionar a inflação. 

Aliás a Organização Mundial do Comércio (OMC), através de sua diretora adjunta Anabil Gonzales mostrou a preocupação quanto aos problemas macroeconômicos e monetários na desaceleração do comércio mundial, além dos riscos geopolíticos. A Ômicron não é a única causa. 

O ambiente internacional, portanto, continua desfavorável e agravado ainda mais pelas ameaças vindas do conflito EUA x Rússia, por causa da Ucrânia. Destaque-se que os aliados europeus não estão muito interessados no conflito que os EUA se esforçam por provocar pois eles sabem que serão os grandes perdedores. Lembremos que a Rússia é o 5º parceiro comercial da UE e o primeiro fornecedor de energia (gás). Novo gasoduto está para ser inaugurado e muitas empresas europeias têm investimentos no país. Além disso eles sabem que os EUA têm interesse em vender o seu próprio gás, mais caro, à UE.

O mercado asiático é que tem se tornado grande comprador dos produtos brasileiros. Não falando da China que responde por 32% das nossas exportações, mais que UE, EUA e Mercosul juntos, a Malásia compra mais que Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e Gales somados. A Tailândia supera a França, a Índia ganha para a Itália e assim por diante. Além disso, há grandes bancos chineses e multinacionais que se apresentam com financiadores do comércio. Mesmo assim, o comércio exterior não será de grande ajuda. 

Se o comércio exterior não ajuda nossa recuperação, a outra esperança que era o agronegócio também anda mal. O clima não vai colaborar. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) estima uma queda na produção de grãos de 4,2 milhões de toneladas. Para os estoques finais espera-se uma queda de 35%. O Itaú Unibanco baixou sua estimativa de crescimento de 5% para1%. E a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de 4% para 2,5%. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, (FGV Ibre) também reviu sua estimativa para o PIB agro de 5% para 3,5%.  Com estas reduções as estimativas para o PIB de 2022 também foram rebaixadas. A FGV Ibre diminuiu de 0,7% para 0,6%. O Boletim Macro, Publicação do Banco Central (BC), para janeiro, calculou o Índice de Confiança Empresarial (ICE) em 91,6 pontos e o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) em 72,6 pontos (abaixo de 100 significa pessimismo). Para completar, a Selic está sendo estimada em 12,25%.

O setor imobiliário, outro setor que tem forte poder de arrasto, também não tem boas perspectivas. A associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança estima que o crédito para o setor crescerá apenas 2% e o PIB da Construção Civil não ultrapassará este mesmo valor: 2%. 

O sinistro da economia Paulo Guedes andou tocando as trombetas pela aceitação da entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), espécie de clube de países ricos. Mais um engodo. O Brasil, e mais 5 países, Argentina, Peru, Romênia, Bulgária e Croácia, foram aceitos para “a abertura das discussões de adesão” que podem durar 5 anos e se satisfizerem 253 instrumentos legais. Entre as condições exigidas estão: proteção do meio ambiente, combate aos desmatamentos e a corrupção, aquecimento global, liberalização dos capitais etc. Além disso, devem ter a aprovação de todos os 38 países membros entre os quais a França que já prometeu ser muito rigorosa. 

Como vemos, nada temos a comemorar e de nenhum lado chegam boas notícias. Os dados só confirmam o que temos afirmado. 2022 será um ano difícil. A economia não vai ajudar a reeleição do Presidente.