Foi bonita a festa, pá!
Lúcio Flávio Vasconcelos —
Na manhã do dia 25 de abril de 1974, soldados fortemente armados ocuparam as ruas de Lisboa. Emocionada com a ação, a garçonete Celeste Caeiro começou a distribuir cravos vermelhos entre militares que estavam na região do Chiado, região histórica da capital portuguesa.
À medida que iam recebendo as flores, os militares as colocavam nos canos das suas armas. Com esse gesto multiplicado aos milhares, a derrubada da ditadura salazarista ganhou corações e mentes, passando a ser denominada Revolução dos Cravos.
Até aquele dia, Portugal vivia dominado pela ditadura do Estado Novo, iniciada em 1933. O ditador Salazar havia sido afastado do poder em 1968, por incapacidade mental. No seu lugar, foi colocado Marcello Caetano. O saudosismo do fausto da era imperial alimentava o imaginário dos partidários do Salazarismo.
O regime estava apodrecido pela repressão, censura e atraso econômico. Mesmo assim, teimava em manter um anacrônico domínio colonial sobre Moçambique, Angola, Guiné, São Tomé e Príncipe, Timor e Cabo Verde. A cruel guerra imperial já custara o sacrifício de milhares de vidas de portugueses e africanos insurgentes.
Apesar da dura repressão, a guerra de libertação africana continuou sua trajetória ascendente. Os militares portugueses perceberam que a derrota era só questão de tempo. Jovens capitães organizaram um movimento de resistência à ditadura em 1973, denominado MFA (Movimento das Forças Armadas). No ano seguinte, apoiados maciçamente pela população, os oficiais derrubaram o ditador Caetano e libertaram o país da opressão. Era o fim do império colonial português.
Em 25 de abril de 1976, após dois anos de intensa disputa política, uma nova constituição foi aprovada pelo Congresso Nacional. Estava assegurado o regime democrático. Finalmente Portugal entrou na era da democracia e desenvolvimento.
Nesses momentos turbulentos, em que o populismo de direita ameaça a democracia em todos os recantos do mundo, cabe relembrar que armas e flores derrubaram um regime tirânico e garantiram a liberdade.