Lula sob ameça

“Eu tenho certeza que o ladrão não sobe a rampa”. Essa frase foi proferida pelo primeiro-sargento da Marinha Ronaldo Ribeiro Travassos, no dia 24 de novembro, durante uma manifestação antidemocrática realizada em Brasília. O militar da ativa está lotado no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo general Augusto Heleno.

Se o sargento sabe de algum complô para assassinar o presidente Lula, eleito democraticamente, tem a obrigação de revelar os fatos à polícia. Afinal, ele é um funcionário público pago pelos impostos e tem o dever profissional de zelar pela ordem e segurança. Do contrário, estará cometendo o crime de omissão ou participação ativa no suposto atentado.

Diferentemente do Brasil, os Estados Unidos têm uma tradição de atentados e assassinatos de presidentes. Abraham Lincoln foi morto com um tiro na nuca em 14 de abril de 1865. O presidente James Garfield foi assassinado em 19 de setembro de 1881. E John Kennedy foi trucidado em 22 de novembro de 1963. No país que cultua as armas e a violência, conspirar para assassinar presidentes é a parte mais sombria da disputa política.

Desde que o regime republicano foi implantado no Brasil, em 1889, o país já teve 38 presidentes. Muitos deles foram eleitos democraticamente. Alguns chegaram ao poder por força de uma ditadura. Eles eram militares ou civis, de esquerda ou de direita, liberais ou autoritários. Mas nenhum deles foi assassinado. O único presidente que sofreu um atentado foi Prudente de Morais, no dia 5 de novembro de 1897. Mas escapou ileso.

O atual clima político no Brasil continua tenso. O discurso de ódio vociferado por Jair Bolsonaro ainda reverbera no país. Seguindo o líder, bolsonaristas mais radicais não aceitam a derrota. Enquanto marcham, dançam e cantam em frente aos quartéis, clamam por um golpe militar.

No momento, não há conjuntura para um golpe de Estado perpetrado pelas Forças Armadas. Mas uma ação terrorista de um “lobo solitário” de extrema direita contra o presidente Lula não pode ser descartada. Assim como a democracia brasileira, Lula continua sob perigosa ameaça.