Não dá pra esquecer
Madrugada do dia 1º de abril de 1964. Uma poderosa coluna militar, composta de milhares de soldados em tanques de guerra, caminhões e jipes desloca-se de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro. À medida que a tropa avança, mais generais, empresários e latifundiários vão aderindo ao golpe de Estado.
João Goulart, rico fazendeiro do Rio Grande do Sul, tinha chegado ao poder por acaso. Ele era vice-presidente quando Jânio Quadros renunciou, em 1961, e fugiu do país. Acusado de comunista por políticos de extrema direita e militares antidemocráticos, Jango havia proposto as Reformas de Base que tocavam na secular dominação dos grandes proprietários e empresas transnacionais. Acossado pelos golpistas, Jango partiu para o exílio, evitando uma sangrenta guerra civil.
O golpe militar de 1964 ocorreu dentro do contexto da Guerra Fria, quando o mundo estava polarizado em dois blocos: países comunistas liderados pela União Soviética e nações capitalistas capitaneadas pelos Estados Unidos. Havia o temor paranoico de que o Brasil repetisse o que ocorreu em Cuba a partir de 1959: uma revolução socialista.
A ditadura militar durou 21 anos. Contou com apoio da cúpula da Igreja católica, dos latifundiários, dos grandes empresários, da alta oficialidade militar das Forças Armadas e importantes setores da classe média, além do Departamento de Estado do governo norte-americano. Nos porões da ditadura, milhares de pessoas foram presas e torturadas. Centenas delas brutalmente assassinadas.
Passados 60 anos do golpe militar, a frágil democracia continua sob ameaça. O espectro do golpismo continuar rondando nas sombras do poder. Jair Bolsonaro (PL), quando ainda estava na presidência, conspirou, planejou e articulou um golpe de Estado. Seu fracasso só se deu porque não encontrou guarida no Alto Comando do Exército.
Esquecer o golpe de 1964 é contribuir para manter acesa a chama do golpismo.