O exemplo de Mujica

Por mais que queiram, todos os lulistas sabem que Lula não é eterno. A sua mais recente internação reacendeu a discussão sobre quem o sucederá na liderança do frágil bloco de esquerda que luta contra uma direita maioritária no Congresso Nacional e nas principais cidades do país.

O presidente Lula (PT) completou 79 anos no dia 27 de outubro. Apesar de demonstrar boa saúde e vigor no comando do país, a queda que ele sofreu no dia 19 de novembro e a recente cirurgia a que foi submetido demonstraram a necessidade da preparação de uma nome em condições de enfrentar o representante da direita, seja em 2026, seja em 2030.

Fernando Haddad é aquele que desponta com as maiores condições para herdar o comando do petismo. Com sólida formação acadêmica e fidelidade canina ao líder petista (foi o mais longevo ministro da educação nos primeiros governos de Lula), Haddad tem experiência administrativa no exercício do poder executivo, pois foi prefeito de São Paulo, a maior cidade do Brasil, por quatro anos.

Quando candidato a presidente em 2018, Haddad passou para o segundo turno contra Jair Bolsonaro, tendo assim nacionalizado o seu nome. Além disso, transita muito bem entre o setor empresarial que não comunga com as ideias da extrema direita.

Contra Haddad pesam a falta de carisma pessoal e a oposição da ala radical do PT. Seu tom moderado e bom relacionamento com os agentes do mercado financeiro aguçam a desconfiança dos setores mais à esquerda no espectro político. Seu calcanhar de Aquiles é o atual cargo de Ministro da Fazenda. Caso a economia degringole, ele irá para o cadafalso.

Cabe a Lula seguir o exemplo de Pepe Mujica, líder icônico da esquerda do Uruguai. Mujica foi presidente do país entre 2010 e 2015 e, após sair da presidência, continuou influenciando a política uruguaia. Yamandú Orsi, eleito presidente do Uruguai pela Frente Ampla em 2024, pertence a mesma linhagem de Pepe Mujica.