O juramento de Queiroga
Todos os anos, milhares de jovens, ao se formarem, fazem o juramento de Hipócrates, considerado o pai da medicina ocidental. Na primeira parte da versão atualizada da promissão, consta o seguinte compromisso: “Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da Humanidade. Darei aos meus Mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos. Exercerei a minha arte com consciência e dignidade. A Saúde do meu Doente será a minha primeira preocupação.”
Não tenho dúvida de que o atual ministro da saúde, o médico Marcelo Queiroga, é muito respeitado entre seus pares. Do contrário, não teria sido eleito para presidir a prestigiosa Sociedade Brasileira de Cardiologia. Acredito que ele deva ser um excelente profissional. Mas como ministro, tem demonstrado estar na contramão da ciência e do bom senso.
Picado pela mosca azul, Queiroga busca prestígio e poder. Para se viabilizar politicamente, se curva às sandices e irresponsabilidades de Jair Bolsonaro e esquece os ensinamentos de Hipócrates que ele jurou respeitar e seguir.
Com um comportamento voltado para agradar ao presidente, Queiroga incorporou o estilo do general Eduardo Pazuello, responsável indireto por centenas de milhares de mortos, vítimas da Covid-19.
Na ânsia de aproximar-se cada vez mais de um Bolsonaro arredio de quem não cumpre fielmente as suas ordens, Marcelo Queiroga tem buscado seguir a risca o receituário do presidente.
Logo que assumiu o ministério, Queiroga mostrou seu total alinhamento com o presidente. Não deu a devida ênfase ao uso da máscara, foi contra as medidas de lockdown, se opôs à vacinação de adolescentes, não usou máscara na viagem à Nova York, fez gestos obscenos para manifestantes, se posicionou contrário ao passaporte de vacinação e, mais recentemente, fez a seguinte declaração que entrará para o anedotário político nacional: “Como diz o presidente, é melhor perder a vida do que a liberdade.” Só faltou bater continência.
Seu comportamento seria cômico se não fosse trágico. Na semana em que o Brasil continua contando seus mortos vitimados pela Covid-19, com mais de 616 mil vidas perdidas, Queiroga teima em repetir o comportamento subserviente do seu antecessor, preocupado mais em obedecer ao presidente do que a salvar vidas. Não por incompetência, mas por cálculo político.
De olho em uma cadeira parlamentar nas eleições do próximo ano, seja de senador ou deputado federal, Marcelo Queiroga sonha em retornar à Paraíba e iniciar uma carreira política, embalado pelo que resta do bolsonarismo empedernido.
Marcelo Queiroga pode até conseguir a tão almejada vaga no Congresso Nacional. Mas sua passagem pelo Ministério da Saúde maculou, definitivamente, sua trajetória de vida, como médico e como cidadão.