Com uma atuação extremamente discreta, porém longe de ser imperceptível, a Ministra Rosa Weber assumiu posição de linha de frente de combate contra as ações do Governo Federal na pauta concernente à pandemia. A magistrada apresenta um traço marcante em sua linha de trabalho: atua mais nos autos do que nos palcos (como deveria ser todo magistrado). Todavia, apresenta muito mais resultado efetivo do que alguns colegas que fazem mais barulho do que prestam serviço ao jurisdicionado.

A Ministra é relatora do inquérito contra o Presidente por suposto crime de prevaricação (art. 319,CP) diante das suspeitas na compra da tal vacina indiana, a Covaxin e assumirá a Presidência do STF em setembro de 2022, saltando no olho do furacão, no momento das eleições que, talvez, sejam as mais polêmicas de todos os tempos.

A postura contundente já foi sinalizada quando apontou como “gravíssima” a existência de um gabinete paralelo no Palácio do Planalto para gerir a crise sanitária mundial mais calamitante do último século. Ali, já apresentou uma intransigência com ações antirrepublicanas.

A magistrada também determinou a quebra de sigilo das comunicações telefônicas no curso da CPI da Covid no Senado em desfavor dos senhores Felipe Martins (assessor internacional ligado ao governo Bolsonaro) e Carlos Wizard (empresário também ligado ao governo).

Segundo a Ministra, ainda sobre a compra da vacina indiana, a situação tem “contornos ainda mais inquietantes” por ter sido realizada com pouca ou nenhuma transparência, algo incompatível com os princípios que regem o Direito Público e “em detrimento de imunizantes com eficácia já comprovada e com custo substancialmente inferior”, o que torna o fato mais gravoso.

Saindo do embate direto com o Presidente, também enfrentou, em decisão, o Procurador Geral da República, diferentemente de seus colegas que enfrentaram tais questões nos bastidores dos gabinetes, jamais em público, ou seja, em decisões formais.

Rosa Weber exarou decisão rejeitando o pedido da Procuradoria para que se pronunciasse apenas ao final da CPI, obrigando a pronunciar-se de pronto sobre a questão da acusação de prevaricação que pesa sobre o Presidente. A Ministra embasou tal decisão no fundamento de que não há previsão legal para a “suspensão temporária de procedimentos investigatórios correlatos ao objeto da CPI”. Tem mais coragem que muito homem!

Saindo das questões políticas (partidárias) e passando para questões políticas (sociais), Rosa Weber emitiu decisão bastante arrojada em voto no sentido de reconhecer o direito da amante dividir pensão por morte de pessoa com quem manteve relacionamento antes da morte.

Foi quando chamou atenção do Presidente! (rsrsrs)

Arrancou a exclamação: “Rosa Weber, mulher, meu Deus do céu!”

Pois bem, isso foi apenas um pequeno recorte da envergadura profissional da ministra Rosa Weber. Apenas uma pequena participação de seu legado ao longo de sua trajetória na Suprema Corte do país. Tantas coisas relevantes para comentar sobre a Ministra Rosa Weber, mas em sabatina, os eminentes senadores acharam mais interessante falar sobre sua beleza e elegância.

Isso mesmo! E é isso que estamos fartas de ouvir. Numa certa feita, escutei da Ministra Carmen Lúcia em uma Conferência para Mulheres o seguinte conselho: 

“Se você quiser sentar numa cadeira importante, precisa trabalhar o dobro do que eles trabalham e ser melhor, pelo menos, duas vezes mais. Não é justo. Porém, só assim irão te notar!”

Entende que enquanto estamos falando de ideia em uma mesa mista, a maior parte dos homens está olhando para os nossos lábios, para os nossos decotes, nossos culotes e nossa forma de andar e pensando em tudo, menos no que falamos?

Quantas vezes pensamos na roupa que vamos vestir antes de uma importante reunião? E vestimos a mais composta, a mais séria. Isso porque o homem facilmente se “distrai”. Precisamos estar com a pauta na ponta da língua, mas também pensar na roupa adequada (nem tão simples, nem tão chamativa), no cabelo (alinhado, sem ser sexy), maquiagem (melhor não usar batom vermelho). É tudo muito mais difícil. Claro que algumas de nós já estão na fase dois- aquela fase que já nos arriscamos mais. Estamos mais seguras de nós mesmas e, quer saber, se não der certo, ok! Preferimos ser o que a gente é e ponto! Mas não é a realidade da maioria.

Há um caminho de muita mata fechada a ser trilhada. Uma Ministra! Estamos falando de uma Ministra! De uma mulher madura. Estamos falando de Senadores da República. De 81 (oitenta e um) homens mais importantes do país. E a reprodução dos mesmos comportamentos: a cultura do machismo estrutural. Essa praga está por toda parte, classe social, estrato social. 

E sim, Rosa Weber é elegante e bonita. Mas muito mais que isso, é forte, fez e faz história na sua profissão e ajudou a construir decisões importantes na mais alta corte do país! Quando estamos falando disso, o gênero, a beleza física, a cor da pele, dos olhos, as vestes, É NADA!

Ainda há muito a se ensinar! Ainda há muito há se aprender!