Uma eleição, dois PT’s?
Três dias. Foi nesse curto espaço de tempo que o tempo virou para Anísio Maia (PT). No dia 13 de setembro ele teve a candidatura à prefeitura de João Pessoa homologada pelo diretório municipal do Partido dos Trabalhadores. Como vice, o empresário Percival Henriques (PC do B). Eis que surgiu um Ricardo Coutinho (PSB) no meio do caminho e, com ele, a ordem do Diretório Nacional para que Anísio retirasse a candidatura. Houve resistência seguida de uma intervenção. A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmanm, mostrou que democracia interna pode ir até a página dois em nome dos interesses da elite petista, altamente burocratizada e desconectada de sua base social.
Como tudo começou? Foi aos 45 do segundo tempo. Em 16 de setembro, dia da convenção do PSB, Ricardo Coutinho resolveu se lançar na disputa. Naquela mesma noite trocou mensagens com Gleisi, confirmando sua candidatura. Era a senha. Com ele no páreo, a coisa mudaria de figura. Não porque o PT queria o apoio do PSB para 2022 como muitos acreditaram; não só porque Ricardo foi voz contra o impeachment de Dilma Rousseff na Paraíba ou porque apoiou Fernando Haddad para presidência, em 2018. Era cobrança de fatura, sim, mas porque Ricardo foi fundamental para o PT na composição de uma aliança inédita com o PSB, em Salvador(BA).
Essa informação importa para compreendermos o cenário local. O problema nessa batalha, como se vê, não é Anísio Maia. Não é o PT de João Pessoa. O buraco é mais embaixo. A capital paraibana pouco importa para o PT de Gleisi. Salvador, sim. A questão é que a estratégia adotada pela sigla no campo nacional foi autoritária e, assim sendo, debilita o PT loca. A fragilidade que se forma aqui, aparentemente inexpressiva, pode ter repercussões desastrosas em 2022. Afinal, se o PT quer estar forte nas próximas eleições, precisa de musculatura dos municípios. Um partido enfraquecido em uma capital não parece bom negócio, nem lógico. É argumento da ‘resistência’.
Por outro lado, quais são as chances de Anísio Maia nas eleições de João Pessoa tendo um diretório nacional tirando a legitimidade de sua candidatura? Por mais que ele esteja fechado com a militância, tem fôlego para crescer mesmo sem o apoio de Lula? Pois se é verdade que Lula ainda não se manifestou pró-Ricardo, é verdade também que, mais cedo ou mais tarde, vai ser fiador do socialista na capital paraibana pelos motivos já mencionados. Os que apoiam a aliança PT-PSB alegam que Ricardo tem mais chances no pleito, embora a rejeição ao ex-governador esteja em 43% (IBOPE) – é a segunda maior rejeição do país segundo levantamento de O Globo. Há quem defenda que bater em retirada seria a melhor estratégia para o PT local que poderia negociar a vaga de vice, espaço na mesa diretora da Câmara Municipal e em cargos na gestão. A militância petista de João Pessoa rebate com argumento igualmente válido. Afinal, partido nenhum se fortalece sem disputar eleição.
Crenças à parte, a chapa PSB-PT foi indeferida pela justiça eleitoral. Anísio Maia garante que é candidato. Giucélia Figueiredo sustenta: “não vamos nos curvar”. Ela diz que o PSB quer o tempo de TV e rádio do PT, além do dinheiro do fundo eleitoral. Ambos acusam Ricardo Coutinho de atropelar o diálogo e a autonomia do PT pessoense. Dizem que o buscaram para uma aliança e que estavam dispostos a apoiá-lo. Argumentam ainda que só decidiram lançar candidatura própria porque o ex-governador assegurou que não concorreria ao pleito.
Mesmo que tudo isso seja verdade, todo esse impasse, troca de farpas e acusações, deixa o campo progressista completamente vulnerável. Bom lembrar que João Pessoa não é caso isolado. Não há frente ampla também na maioria das capitais brasileiras. E na boa, essa divisão é pouco producente. Desmobilizada, a esquerda ajuda a fortalecer aquilo que pretende comater: partidos e candidatos de direita e extrema-direita. É tiro no pé. Quiçá, na cabeça.