Cícero e Nilvan: o que pode definir a disputa entre os candidatos?
Sabe o que pega numa eleição? A matemática. Tem também a interpretação dos diferentes textos, muitos deles numéricos. Pesquisas de intenção de voto, por exemplo, pedem olhar atento aos detalhes. E para uma leitura exata, todos os cálculos precisam ser considerados, incluindo o que não está na pesquisa. Vejamos: a primeira pesquisa deste segundo turno em João Pessoa – realizada pelo Instituto Opinião e divulgada pelo MaisPB – aponta Cícero Lucena como favorito com 43,5% das intenções de voto contra 32,1% de Nilvan Ferreira (MDB).
Sabe-se que Cícero chegou com vantagem nesta etapa uma vez que venceu o primeiro turno e, agora, ampliou a rede apoios. A coalizão que já contava com PTB, PMB, Republicanos, PRTB, PTC, PMN, Cidadania e Avante, ganhou o reforço do DEM, do PSL e do Solidariedade. Foi também nesta segunda etapa que Nilvan deixou de ser sozinho. O MDB ganhou apoio do PSDB (apesar de Ruy Carneiro), do PSC, do PSD e de vereadores do PV mais secretários da gestão Cartaxo.
Há uma série de fatores a considerar. Ambos são de partidos de direita: MDB mais ao centro, mas alinhado ao bolsonarismo. Aliás, Nilvan Ferreira é o que mais incorpora o discurso conservador/neoliberal pela própria afinidade ideológica com o presidente da República. É antipolítica. Nunca escondeu isso. Ainda hoje, em entrevista a esta colunista, defendeu a abertura irrestrita do comércio pessoense na pandemia da Covid-19.
Mas o PP, partido de Cícero, foi a casa de Bolsonaro por quase 1 década e pode voltar a ser. O PP foi fundamental para o governo Temer (MDB) em 2016 e depois disso, e hoje lidera a maioria na Câmara Federal e dá suporte ao governo de Jair. PP é centrão. Centrão é governo. Ou seja, há muitas semelhanças aí, incluindo a rejeição. A de Cícero gira em torno de 40,5%. Alta, porém menor que a de Nilvan: 46,5%. Não deixa de ser colheita da inexperiência que é marca dos outsiders. Este ano, houve uma desidratação dessas candidaturas nas urnas, mas legendas bolsonaristas (Republicanos*, PSL*, PSC, Patriota e PRTB*) dobraram de tamanho. Crescimento de seis pontos percentuais na quantidade de votos válidos em relação às eleições municipais de 2016. Três dessas legendas* estão com o candidato do Partido Progressista. PSC foi para Nilvan. Patriota declarou neutralidade, mas o partido se dividiu e parte dele apoia o emedebista.
Entre tantas semelhanças, o que pode definir a disputa entre os candidatos? A pesquisa mostra uma propensão dos eleitores de apostarem na experiência de Cícero. Mas os blocos que acompanham as duas candidaturas vão ajudar a definir esse xadrez. Nacionalmente, PP e PSD (este declarou apoio a Nilvan) foram os partidos que mais cresceram em 2020. Na Paraíba, o PSD encolheu. Saiu de 26 prefeituras em 2016 para 12 este ano, mas conquistou a segunda maior cidade do Estado com a ajuda do PP. O PP inflou: passou de 6 para 21 prefeituras, e ainda pode chegar a 22 dependendo do resultado das eleições no próximo domingo. O Cidadania, partido do governo, fechou com o PP e fez o maior número de prefeituras no Estado (42). A legenda transita entre dois lados: ora progressista, ora neoliberal. Depende da pauta, e, querendo ou não, a máquina pesa.
A musculatura desses partidos se reflete na Câmara de Vereadores. Os apoios já declarados dão o seguinte placar: 18 (contando com PROS, PL, PT) a 5 para Cícero, entre eles, os 6 parlamentares mais bem votados da casa. Nilvan recebeu adesão de Carlão pelo Bem (Patriota) e Lucas de Brito (PV). Ambos são de partidos que, publicamente, declararam neutralidade.
Esses consensos também têm peso importante no xadrez eleitoral. Demonstram capacidade de articulação e podem pesar na decisão do eleitor, influenciando o resultado das pesquisas. A única consulta que temos aqui mostra que o eleitor parece enxergar essa movimentação dos partidos como construção de pontes necessária para destravar a cidade. Isto é, mesmo que não saiba ler os detalhes, o eleitor entende que este não tem que ser um jogo de soma zero. Até aqui, o tabuleiro está mais para o azul que para o verde, no entanto, reviravoltas podem ocorrer. Certeza mesmo só teremos com as urnas. Elas são soberanas, e a semana é decisiva.
