Opinião

Não é culpa só da Covid-19. Alienação eleitoral faz abstenção disparar em 2020

Há 15 dias, no primeiro turno das eleições, o TSE anunciou uma abstenção no país  de 23,14% – a mais alta desde a primeira votação com urnas eletrônicas no país, em 1996. Somando abstenções, votos brancos e nulos, o Brasil registrou um resultado surpreendente: 30,6% dos eleitores, ou seja, mais de 45 milhões de pessoas se recusaram a escolher candidatos a prefeituras e parlamentos municipais.

Em João Pessoa, 156.938 pessoas votaram branco (4,49%), nulo (6,59%) e abstiveram (21,28%). Elas representaram 32,36% do eleitorado. Comparado a 2016, brancos e nulos tiveram crescimento 37,8%; abstenções, 11,37%.

Os números mencionados nos falam de indiferença e alienação eleitoral. Temas bastante discutidos na Ciência Política. Enquanto a primeira favorece o voto útil porque vigora a ideia do ‘tanto faz’, a segunda leva exatamente ao voto nulo, branco e à abstenção. Está relacionada ao descrédito, à perda de confiança no sistema. Sendo assim, olhando para o resultado deste primeiro turno no país e na capital paraibana, temos um alto número de eleitores alienados. Não deixa de ser contraditório já que o voto no país é obrigatório.

A pandemia da Covid-19 contribuiu para a evasão do eleitor e para o distanciamento deste do processo eleitoral. Mas esse processo de alienação não é novo, vem desde a década de 90 com a eleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e é resultado, também, e principalmente, da imensa crise de representatividade pela qual passam os partidos. Boa parte, incluindo os de esquerda, se burocratizou. Outros, como partidos que formam o centrão, não tem qualquer compromisso programático, militância ou base social – são legendas de aluguel. Nos últimos anos, o fortalecimento do discurso da antipolítica também contribuiu para esse resultado que acaba fragilizando democracias no mundo. Sem participação popular, líderes autoritários avançam e movimentos regressivos se fortalecem.

Pesquisas dão conta de que, em 2002, um em cada dois brasileiros se identificava com algum partido. Doze anos depois, essa proporção havia caído: de cada 3 brasileiros, apenas 1 tinha identificação partidária. Mudar essa onda e reverter esse quadro passa pelo estímulo de uma consciência cidadã que, por sua vez, passa pela educação. O eleitor precisa entender que toda e qualquer mudança começa e termina com ele, num ciclo que exige vigilância e participação contínuas. Precisa compreender ainda que não há vazio na política. Se alguém não vota, transfere a responsabilidade e a decisão para outra pessoa.

Há, perceba, uma necessidade de mudança mental que pede um Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Tribunais Regionais Eleitorais (TRE) mais atuantes, mais próximos da sociedade. É desses órgãos a responsabilidade de intensificar campanhas que mostrem a importância do voto. Claro, os partidos políticos não podem se eximir dessa responsabilidade. Precisam se aproximar da população e despertar nesta o interesse pela política. Não há modelo ideal de democracia, mas uma democracia participativa é o caminho para a construção de um projeto político orgânico que inclua o povo e que promova bem estar. Então, vamos às urnas!