Opinião

Por que Daniella não tirou o sono de João?

Nem só de ideologia se faz um partido. Uma boa dose de pragmatismo é vital para quem busca competitividade e faz questão de sobreviver na selva da política. As coalizões guardam um pouco dessa função equalizadora, muito embora o peso das conveniências tenha onerado as relações e as reduzido, muitas vezes, a mero balcão de negócio. Falamos sobre isso em coluna anterior, por isso não aprofundaremos o conceito. O que interessa agora é de ordem prática: o a aliança entre Cidadania e o Partido Progressistas (PP).

O acordo entre as duas legendas ajudou a eleger Cícero Lucena como prefeito de João Pessoa ano passado. Sim, houve outros fatores envolvidos: a experiência do candidato foi largamente beneficiada pelo apoio da máquina representada pelo apoio de João Azevêdo. Nesse processo, o PP foi coadjuvante e não determinante. Em colunas anteriores também falamos do PP, a alma do Centrão, fisiológico por natureza. Falamos de seu crescimento nas eleições municipais. À época afirmamos que tudo era muito inorgânico. Isso porque não há base, não há militância.

De lá pra cá, nada mudou. Apesar de o PP ter chegado à presidência da Câmara Federal, essa vitória é mais do Centrão que propriamente do Partido de Aguinaldo Ribeiro que foi escanteado no processo depois de peitar Arthur Lira na eleição. Para o PP da Paraíba, um jogo de mais perdas que ganhos. Ainda assim, por aqui o PP se assanha e se fia no resultado eleitoral de 2020, quando cresceu em número de prefeituras e levou o a disputa na capital.

A novidade da vez é a crítica a João Azevêdo. A senadora Daniella Ribeiro (PP) reclamou da falta de trato do governador no diálogo. Disse Ribeiro que Azevêdo é “difícil”. Ele rebateu em entrevista a um programa de rádio de João Pessoa: “não estou preocupado com isso”. Azevêdo, observou certa fonte, “sinalizou à senadora qual o tamanho da importância que delega ao grupo dela. A reclamação mal calculada deixa fragilidades à mostra”.

Se Daniella Ribeiro tenta soltar os fios da aliança tecida em passado recente e forçar um rompimento, é cedo para afirmar. O desgaste, contudo, é prova inconteste da fragilidade de uma coalizão firmada por meio de barganhas autointeressadas.

Por trás do movimento de Ribeiro estaria 2022. A senadora é apontada como candidata à opositora de João na disputa pelo governo da Paraíba. O desempenho em 2020 seria a motivação para buscar o adensamento do partido.  Mas há um porém: a relação Cícero-João. O primeiro abriria mão do apoio do segundo em função dos Ribeiro? A probabilidade é mínima. Cícero não precisa do PP. Tem vida própria. Já o contrário não pode ser dito. Exatamente por isso parece pouco provável que Daniella e o clã Ribeiro estiquem a corda com João e polarizem o debate.

Nada impede, contudo, que Daniella lance candidatura ao governo da Paraíba em 2022 já que isso não coloca em risco seu mandato como senadora. Estrategicamente é bem capaz que o faça porque isso poderia ajudar na reeleição de seu irmão Aguinaldo. De quebra, serviria como bala na agulha para negociar com grupos políticos de Campina Grande.