Professor Luiz Júnior foi vencido pela COVID-19, mas não foi vítima apenas do vírus
Vivemos o pior dos mundos. Um récorde trágico atrás de outro. O Brasil mal se recuperou do baque das 1.726 mortes registradas no dia 2 e, 24 horas depois, outra porrada: a triste marca das 1.840 morte. Nesta quinta-feira (4), mais 1.796. É como se seis aeronaves caíssem por dia matando todos os seus passageiros. Se acidentes assim causam, por si só, grande comoção nacional, por que a perda em massa de vidas para a covid-19 não causa mesmo espanto? Quando normalizamos isso e adormecemos diante do caos sem reação enérgica à inação dolosa de quem tem o dever de combater o mal mas se transforma no próprio mal porque, quando não soluciona, atrapalha?
Desde o início da pandemia, 259.402 vidas perdidas. Entre elas a do professor Luiz Júnior, ex-secretário de educação de João Pessoa. Antes de lutar pela vida e contra o coronavírus, Luiz Júnior lutava pela educação. Era guerreiro dos mais incansáveis nesse campo de batalha. Foi vencido pela Covid nesta dia 4 de março, mas não foi vítima apenas do vírus – aliás, nem eles, nem as demais vítimas. O professor (e todos os outros) foi vítima da incapacidade do governo federal, de seu ministro da Saúde, de formular um plano de vacinação universal e eficaz, capaz de promover unidade e de trabalhar pelo bem coletivo.
Enquanto todos os líderes políticos do mundo, os neoliberais, inclusive, trabalham para vacinar seu povo. Aqui, Bolsonaro, age pra confundir. Nesta quinta que nos trouxe 57.517 novos infectados por Covid – alta de 27% em relação a 14 dias atrás – o presidente voltou a desdenhar dos doentes, dos que sofrem pelos doentes e mortes. Palavras do presidente: “Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”, questionou ele no pior momento da pandemia no Brasil. Não é só insensibilidade. É, claramente, desprezo pela vida dos outros.
Em um país com 211 milhões de habitantes, até agora 7.351.265 pessoas tomaram a primeira dose e 2.303.850 a segunda . E como muita gente não respeita as medidas restritivas e preventivas seguindo o modelo que vem de cima, o aumento da contaminação vai favorecendo a mutação do vírus. Se isso vai levar ao insucesso das vacinas, é uma grande incógnita. Especialistas já se debruçam sobre a questão, todavida, há um fato incontestável: quanto mais tempo se leva para vacinar a população em massa, maiores as dificuldades para mitigar os efeitos da crise sanitária sobre a economia.
Por outro lado, quanto mais tempo o governo leva para aprovar um auxílio emergencial e socorrer as pessoas que mais precisam, mais a gente se afunda. O PIB despencou 4,1% em 2020. O PIB percapta, ou seja, a soma do que cada pessoa tem em relação ao total de riquezas produzido no país, caiu 4,8%. Estamos em queda livre, adoecidos, seguindo na contramão do bom-senso, da saúde pública, da proteção à vida, da recuperação econômica.
O Reino Unido, país que, assim como o Brasil, enfrenta barreiras sanitárias em diversas outras regiões do mundo, fez o seguinte: pegou empréstimo de 355 bilhões de libras para injetar na economia, demonstrando compromisso tabém com a saúde financeira dos britânicos. No Brasil, essa discussão tem partido do Congresso.
Enquanto isso, no Planalto Central as preocupações são outras. Há dois dias, Bolsonaro deu uma festa à base de leitão assado no Palácio da Alvorada. Há dois dias também, ele vetou Estados e Municípios de imunizarem a população em caso de omissão do Ministério da Saúde. Felizmente há uma decisão contrária do Supremo Tribunal Federal e o veto perde seu objeto. Mas isso tudo só mostra a imensa falta de compromisso de Bolsonaro com sua gente enquanto o país inteiro vira uma grande cova.