Opinião

O Estado autoritário na Via Sacra e a ideologia fascista

A Via Sacra é uma das liturgias mais fortes da Igreja Católica. Tradição que remonta o século IV e que reproduz o sofrimento de Cristo até a crucificação.

Na sexta-feira santa, o ponto alto das celebrações se dá com caminhadas que  relembram essa história de fé e religiosidade e convidam à reflexão.

Trazido o contexto, vamos aos fatos…

Na última sexta-feira (15), em São Paulo, o padre Júlio Lancellotti seguia com fieis pelas ruas do centro de São Paulo quando foi interrompido por policiais militares. Questionado sobre o propósito do ato, teve também os documentos requisitados.

“Intimidação”, bradou o padre conhecido por seu trabalho social junto aos mais vulneráveis. isso porque, no mesmo dia, na Rodovia dos Bandeirantes, o presidente Jair Bolsonaro (PL) fazia uma motociata ao custo de R$ 1 milhão de reais para os cofres públicos só com aparato de segurança.

A reação da polícia tinha o objetivo de calar qualquer protesto contra o ato e o presidente. Se foi ou não a mando da corporação, não se sabe. Em nota divulgada pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, a abordagem policial não foi mencionada.

Abordagem que revelou, mais uma vez, o braço autoritário do Estado. Na ocasião da Via Sacra, organizada pela Pastoral do Povo da Rua, pessoas em situação de rua que denunciavam as violações sofridas diariamente se juntaram à caminhada. Isso explica muita coisa: a ordem é silenciar qualquer crítica, é destruir toda aposição.

A criminalização de pessoas e movimentos que acusam o atraso e a opressão do sistema, que lutam por dignidade e pela vida, se tornou corriqueira no país tomado por uma política que deposita na força as suas fichas.

Na Sexta-feira Santa dos dias atuais fica um alerta: a crucificação de Cristo se dá pela crucificação dos pobres, dos desvalidos e segregados; pela hierarquia de valor entre as classes. Essa é a mais pura ideologia fascista.

-Foto Capa: Padre Júlio Lancellotti fala durante Via Sacra organizada pela Pastoral do Povo da Rua, no centro de São Paulo – Marlene Bergamo – 15.abr.2022/Folhapress