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Documentário revela como lavajatismo foi replicado na Paraíba, na Operação Calvário, nos últimos 3 anos

Uma das maiores ações de uso político da Justiça no Brasil, depois da Operação Lava Jato no Paraná contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, é a Operação Calvário na Paraíba que mirou o ex-governador Ricardo Coutinho.

Os repórteres Eduardo Reina e Camilo Toscano se debruçaram sobre as ações, denúncias, acusações e decisões do Ministério Público e da Justiça na Paraíba e identificaram uma série de procedimentos similares entre as duas operações. O estudo, que contou com a leitura de mais de 10 mil páginas de processos de acusações e defesas, além de dezenas de entrevistas, se transformou no documentário “Justiça Contaminada – O Teatro Lavajatista da Operação Calvário na Paraíba”, que pode ser visto na TV Conjur.

Exibido em 9 episódios, o filme mostra os paralelos entre as operações na Paraíba e no Paraná, como o uso irregular das delações premiadas, trazendo o relato de pessoas envolvidas na investigação. O objetivo é ressaltar o olhar humano sobre os fatos narrados e descobertos pela reportagem.

O principal delator da Calvário, Daniel Gomes da Silva, contou com regalias para acusar Ricardo Coutinho e seu grupo político. O delator usava um notebook na cela da Penitenciária da Papuda, em Brasília, para transcrever conversas que foram utilizadas para sustentar prisões, buscas e apreensões e as acusações feitas pelo Ministério Público na investida que perseguiu a família e pessoas ligadas politicamente ao ex-governador.

Daniel Gomes da Silva representava a Cruz Vermelha, que administrava hospitais da rede estadual, e gravou por mais de sete anos várias conversas com integrantes do governo da Paraíba. Depois, transcreveu partes dos diálogos usados em seu acordo de delação premiada. Nos documentos de acusação, muitos relatos dessas conversas estão em primeira pessoa, porque não foram feitos por um perito, mas por Daniel, como reconheceu sua própria defesa.

Responsáveis pela Calvário na Paraíba, o promotor Octávio Paulo Neto, do Ministério Público, e o desembargador Ricardo Vital, do Tribunal de Justiça, eram chamados pela imprensa local como “Moro e Dallagnol da Paraíba”, em referência ao ex-juiz Sergio Moro e ao ex-procurador Deltan Dallagnol, que comandaram a Lava Jato.

Além das semelhanças entre as duas operações, o documentário revela ainda ilegalidades e ofensas à Constituição no decorrer da Calvário, apresentando um problema mais profundo que contaminou a justiça brasileira: o uso das investigações de corrupção como arma de destruição no campo político, fenômeno chamado de Lawfare.

O documentário “Justiça Contaminada – O Teatro Lavajatista da Operação Calvário na Paraíba” mostra como age a aristocracia judicial e política no Estado. Longe dos holofotes da mídia nacional, ignoraram decisões do STF, desrespeitando as normas legais e os direitos humanos. Ao usar o repasse de informações selecionadas, as operações Lava Jato e Calvário capturaram parte da imprensa, que reproduzia as notícias repassadas sem antes checar os dados e fatos reportados pela promotoria. O combate à corrupção, por sua vez, servia de forte argumento para conquistar a opinião pública e permitir os abusos cometidos nas investigações.

As histórias de vida dos envolvidos na Calvário e as situações pelas quais passaram são narradas sob uma perspectiva humana, sem abandono das questões jurídicas e políticas que cercam o enredo paraibano. Os episódios mostram as prisões ilegais e tentativas de censura, os meandros do poder local, passando pelas cartas em que uma das acusadas diz querer tirar a própria vida. Também registra as tramas que explicam como, em pouco mais de dois anos, o ex-governador Ricardo Coutinho, o político de maior influência na Paraíba, virou um alvo das autoridades policiais.

Serviço:

Documentário: Justiça Contaminada – O Teatro Lavajatista da Operação Calvário na Paraíba

Estreia quarta-feira, 4 de maio, às 19h30.

TV Conjur – https://youtu.be/x0Nl9uUhV4A