Política com pimenta

Casagrande: “Essa é a Copa da censura”

A Copa do Mundo de futebol, que começou no último domingo (20), extrapolou seu caráter esportivo desde a escolha da FIFA, a Federação Internacional de Futebol, de entregar ao Catar a organização do evento. O país do Oriente Médio é um famoso violador de direitos humanos e tem causado polêmicas entre jogadores e confederações de futebol.

No país de orientação islâmica, foi amplamente divulgado aos turistas e a quem trabalhará no evento, que estão proibidas manifestações homoafetivas, por exemplo. Inclusive manifestações de apoio à causa LGBTQIA+, tradicionalmente realizada por algumas seleções que estampam as cores do arco-íris em suas braçadeiras, estão banidas.

Organizações que monitoram os direitos humanos no país, apontam que mais de 6 mil trabalhadores morreram durante as obras que ergueram os estádios que abrigarão os jogos e a modernização de seus entornos. O governo catari, no entanto, afirma que foram apenas 37 mortes.

O ex-jogador e comentarista Walter Casagrande é um dos que vem criticando as imposições e proibições postas pelo Catar durante a realização do mundial.  “Não faz sentido algum para o mundo que nós estamos hoje, numa luta incessante antirracista, pelos direitos humanos, pelas mulheres, pela inclusão social, contra a fome, realizar uma Copa do Mundo no Catar”, disse em entrevista ao Brasil de Fato.

Seleções nacionais e jogadores fizeram protestos contra a sede do Mundial. A Dinamarca, por exemplo, jogará com um uniforme diferente, sem a estampa da sua patrocinadora e de seu emblema, em retaliação às mortes de trabalhadores no país.

Se por um lado, a ideia de comunidade pregada pela FIFA se esvai com a escolha do Catar como sede da Copa, por outro, a falta de tradição esportiva do país na modalidade trazem ainda mais dúvidas à escolha.

O campeonato local tem apenas 12 times e pouca competitividade em relação a outras ligas pelo mundo. O grande investimento do país no esporte é realizado longe de suas fronteiras. O Paris Saint Germain, uma equipe de relativa tradição na França, foi adquirida pelos cataris e, desde então, tem sido alimentada com alguns dos maiores jogadores da atualidade, mas sem, até o momento, grandes retornos esportivos.

“O mundo todo está se manifestando de maneira contrária à Copa do Mundo ser nesse país que não tem nada a ver com o futebol e não tem nada a ver com o que a humanidade está brigando hoje em dia”, aponta Casagrande.

“Eu vejo que essa é a Copa da censura. A Copa que não pode. A única coisa que você pode fazer lá é jogar bola e isso daí é muito limitado para uma Copa do Mundo, sabe?”, completa o ex-jogador.

Walter Casagrande, que pela primeira vez fará a cobertura jornalística de uma Copa do Mundo fora da Rede Globo, de onde saiu em julho deste ano após 25 anos como comentarista esportivo.